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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Coaf indica R$ 855,7 milhões em operações atípicas no Judiciário




Relatório foi encaminhado pela corregedora do CNJ, Eliana Calmon, ao Supremo



BRASÍLIA - Relatório do Coaf (órgão de inteligência financeira do Ministério da Fazenda) enviado pela corregedora-geral do Conselho Nacional de Justiça, Eliana Calmon, detectou 3.426 comunicações de movimentações no valor total de R$ 1,7 bilhão entre 2000 a 2010.

Desse total, R$ 855,7 milhões se referem a movimentação bancária fora do padrão.

O mesmo relatório aponta que foram encontradas R$ 274,9 milhões em operações em espécie, ou seja, em dinheiro.


Todos os saldos se referem a magistrados ou servidores do Poder Judiciário.

O GLOBO já havia antecipado parte desses dados no final do ano passado


O documento de 14 páginas faz parte das explicações que Eliana Calmon enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) para rebater a ação das entidades que representam os magistrados e querem barrar a investigação do CNJ sobre suspeita de pagamentos irregulares no Judiciário.


O relatório do Coaf mostra que entre as operações em espécie a maior parte se concentra em São Paulo, R$ 53,9 milhões.

Em segundo lugar parece o Distrito Federal, com R$ 46,7 milhões.

Em terceiro, o Rio de Janeiro, R$ 32 milhões. Considerando o total movimentado em operações atípicas São Paulo fica em primeiro lugar com R$ 169, 7milhões e o Rio em segundo, R$ 149,3 milhões.


A nova vanguarda do atraso


O desempenho da economia brasileira em 2011 foi modesto: o PIB cresceu menos de 3%, a segunda pior performance desde 2004



O freio da economia foi a indústria de transformação, que permaneceu estagnada.

A produção de bens de consumo durável declinou quase 2%. Pior foi o caso dos não duráveis: no ramo têxtil, a produção caiu 15%; em calçados e artigos de couro, menos 10%; no vestuário, -3,3%. De fato, o setor industrial anda de lado, ou, dependendo de onde, para trás. Até hoje não retomou o nível de produção anterior à crise de 2008-2009.

O leitor pode perguntar-se: como é possível isso se o consumo nos últimos anos aumentou tão rápidamente? Desde 2007 as vendas a varejo cresceram perto de 40% reais; em 2011, 5%.

A resposta é simples: crescem vertiginosamente as importações de produtos manufaturados. O déficit da balança comercial da indústria de transformação em 2011 (janeiro /novembro) cresceu 37% em relação a 2010, chegando a 44 bilhões de dólares!

Em 2006, a balança era superavitária em 30 bilhões. Assim, boa parte dos empregos gerados pela febre de consumo dos últimos anos foi para o exterior.

Há uma desindustrialização em marcha no Brasil. Além do encolhimento do setor em relação ao PIB (faz mais de uma década), há uma desintegração crescente de cadeias produtivas, tornando algumas atividades industriais parecidas às “maquiadoras” mexicanas.

Mas atenção! Os produtos manufaturados que importamos não são mais baratos, e os que exportamos mais caros, porque a indústria brasileira seja mais ineficiente do que a chinesa ou coreana, embora, pouco a pouco, num círculo vicioso, isso possa acontecer. A explicação principal é o elevado custo sistêmico da economia brasileira.

Primeiro, a carga elevada e distorcida de impostos sobre a indústria. Um exemplo simples: de cada R$1 do custo do kw de energia elétrica, R$ 0,52 vão para tributos e encargos setoriais!

Segundo, a péssima infraestrutura. O governo federal destina pouco para investir e investe pouco daquilo que destina, em razão de falta de planejamento, prioridades e capacidade executiva. 


O país realiza um dos menores investimentos públicos do mundo como fração do PIB. Mais ainda, devido a esses fatores, acrescidos de populismo e preconceitos, os governos do PT não conseguiram fazer parcerias amplas com o setor privado na infraestrutura.

Há uma terceira condição decisiva para a desindustrialização: a persistente sobrevalorização da moeda brasileira diante das moedas estrangeiras: cerca de 70% desde 2002, segundo estimativa de Armando Castelar. Isso aumenta fortemente os custos brasileiros de produção em dólares: dos salários à energia elétrica.

Isoladamente, a sobrevalorização é o fator mais importante que barateia nossas importações e encarece as exportações de manufaturados. Levá-la em conta ajuda a compreender por que temos o Big Mac mais caro do mundo e os nossos turistas em Nova York, embora em menor número do que os alemães e os ingleses , gastam mais do que os dois somados.

Economistas e jornalistas de fora do governo falam contra a idéia de existir uma política específica para a indústria. Opõem-se à teoria e à prática de uma política industrial, que, segundo eles, geraria distorções e injustiças. Já o pessoal do governo e seus economistas falam enfaticamente a favor da necessidade e da prática de política industrial. Nessa discussão, gastam-se papel, tempo de TV a cabo e horas de palestras.

É uma polêmica interessante, mas surrealista, pois não existe de fato uma política econômica abrangente e coerente, de médio e longo prazos, que enfrente as causas da perda de competitividade da indústria.

O programa Brasil Maior?

Faltam envergadura e capacidade de implantação, sobram distorções. E a anarquia da política de compras de máquinas e equipamentos para a área do petróleo ou a confusão dos critérios de crédito subsidiado do BNDES?

Têm alguma racionalidade em termos uma política industrial?

Nenhuma!

Alguém poderia indagar: “E daí? Qual é o problema de o Brasil se desindustrializar?
 

Temos agricultura pujante, comércio próspero e outros serviços se expandindo. Tudo isso gera emprego e renda. Devemos seguir comprando mais e mais produtos industriais lá fora, pois dispomos dos dólares para tanto: vendemos minérios e alimentos e recebemos muitos investimentos externos”.

Desde logo, nada contra sermos grandes exportadores de produtos agrominerais.

Os Estados Unidos fizeram isso nos século 19 e boa parte do século 20 e ainda viraram a maior potência industrial do planeta, expandindo ao máximo a exportação de manufaturas. A riqueza em commodities não é a causa necessária de retrocesso industrial. Pode, sim, ser fator de avanço.

O retrocesso só está existindo porque os frutos dessa riqueza não estão sendo utilizados com sensatez e descortino.


Ao se desindustrializar, o país está perdendo a sua maior conquista econômica do século 20. Estamos a regredir bravamente à economia primário-exportadora do século 19; a médio e longo prazos, esse modelo é vulnerável no seu dinamismo, por ser muito dependente do centro (hoje asiático) da economia mundial.

Os países com desenvolvimento brilhante têm sido puxados pela indústria, setor que é o lugar geométrico do progresso tecnológico e da geração dos melhores empregos em relação à média da economia.

O Brasil tem 190 milhões de habitantes, a 77ª renda per capita e o 84º IDH do mundo.
 

É preciso ter claro: sua economia continental não proporcionará a renda e os milhões de empregos de qualidade que o progresso social requer tendo como eixo dinâmico o consumo das receitas de exportação de commodities.

A indagação retórica que fiz acima envolve um conceito que tornaria o futuro da economia brasileira vítima de um presente de leniência e indecisão.

Conceito que pauta, de fato, o lulopetismo.

É que um marketing competente consegue dar uma roupagem moderna a essa nova vanguarda do atraso.


12 de janeiro de 2012

Bezerra: critérios técnicos basearam repasses para PE


Ministro da Integração Nacional tenta explicar ao Congresso envio de verbas federais para seu reduto eleitoral.

Ele fala em "iniciar" trabalhos de prevenção no momento em que chuvas já mataram mais de trinta no Brasil


Luciana Marques
O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, no Congresso nesta quinta-feira (José Cruz/ABr)

O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, falou nesta quinta-feira em critérios técnicos para justificar o repasse milionário de verbas a seu reduto eleitoral, Pernambuco. “Foi uma decisão tomada com avaliação técnica, de forma adequada após uma situação que causou prejuízos bilionários, de mais de 2 bilhões de reais”, disse Bezerra, em referência aos estragos causados pela chuva no estado em 2010.

O ministro presta explicações nesta tarde à Comissão Representativa do Congresso Nacional. O grupo foi convocado durante o recesso parlamentar. Assim como ocorreu na semana passada, Bezerra usou primeiro os valores empenhados – e não os efetivamente gastos – para fazer comparações entre os repasses feitos aos estados.


Segundo ele, do total empenhado em 2011, de 2,2 bilhões de reais, 26% foram destinados a São Paulo; 18% ao Rio de Janeiro; e 11% a Minas Gerais. O ministro admitiu, no entanto, que Pernambuco está no topo da lista da pasta quando se fala em recursos que já estão nas mãos dos estados.


Bezerra responsabilizou o Ministério das Cidades pelas políticas de prevenção a desastres. De acordo com ele, o Ministério da Integração recebe 12% dos recursos destinados ao setor. O restante é alocado na pasta das Cidades.


O ministro também se arriscou a fazer novas promessas – no momento em que o Brasil já tem mais de trinta mortos pelas chuvas. “Precisamos reestruturar a Defesa Civil, ter forte política da drenagem urbana, trabalhar nas encostas sujeitas a deslizamento”, disse.

“Precisamos iniciar com coragem a remoção de moradias e populações que habitam em áreas de risco.”


Família - Bezerra tentou ainda justificar a nomeação do irmão, Clementino Coelho, na presidência da Codevasf. "Nunca houve nomeação ou indicação de parentes para a empresa Codevasf", disse. "O cargo estava vago".


O ministro também procurou explicar a nomeação de Antônio de Pádua Kehrle, sogro do seu filho, para comandar o Departamento Nacional de Obras contra Seca (Dnocs). Segundo ele, Kehrle foi indicado em 2010, quando seu filho não era casado.

“O casamento se deu em julho de 2011”, disse. “Foi uma indicação do deputado do PT Pedro Genro, que está aqui e pode dar as explicações.”


Outro assunto tratado por Bezerra foi o favorecimento na liberação de emendas a seu filho. Para isso, mostrou o ranking dos partidos com mais emendas liberadas pela pasta. Segundo ele, em primeiro lugar ficou o PMDB, seguido pelo PT, PSB e DEM. “A oposição foi contemplada com 15%”, disse. “Não existe atendimento por interesse político-partidário.”


O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias, reclamou: “No meu caso é zero por cento de empenho.” O tucano aproveitou a oportunidade para fazer um questionamento ao governo. “Os ministros do PT estão proibidos de vir ao Congresso Nacional?”, perguntou.

“Há ministros de primeira e de segunda classes?”


A presidente Dilma Rousseff blindou o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, de prestar esclarecimentos ao Congresso sobre os contratos de sua empresa de consultoria.


"Não é verdade que o PT tem privilégio", disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). "Vossa Excelência mesmo teve o requerimento aprovado para convidar o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante.”

Ele disse também que há discriminação contra o Nordeste e que o caso não teria sido levado à tona se São Paulo tivesse sido o estado mais privilegiado com recursos.


Os governistas comparecem em peso ao Plenário, apesar do recesso parlamentar. Estão presentes, por exemplo, os líderes do PT na Câmara e no Senado, Paulo Teixeira (SP) e Humberto Costa (PE), e do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN) e Renan Calheiros (AL).

O PSDB também foi representado pelos líderes das duas Casas: o deputado Duarte Nogueira (SP) e o senador Alvaro Dias (PR).

Partidos governistas já exigem pacto sobre ação do ‘santo Lula’ em eleições




Partidos da base temem mais a presença do ex-presidente nos palanques do que a atuação da presidente Dilma, especialmente após comoção gerada com tratamento do petista contra o câncer


                                                                 Do Estadão

BRASÍLIA - Preocupados com a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos palanques petistas, em meados deste ano, partidos da base do governo já brigam pela divisão do espólio lulista na caça aos votos.

Sem esconder que temem mais a participação de Lula do que a da presidente Dilma Rousseff na campanha, aliados comparam o apoio do antigo chefe a um tiro de "canhão".

"Dilma garante que não privilegiará nenhum candidato de sua base em detrimento de outro. Mas e o canhão do Lula? O que a gente faz com ele?" pergunta o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). "A emenda pode ficar pior do que o soneto."
Com a expectativa da cura de Lula, em tratamento para combater um câncer na laringe, dirigentes de partidos governistas não têm dúvidas de que ele se transformará numa espécie de "santo" nos comícios.

Munidos dessa avaliação, prometem disputar a imagem do ex-presidente palmo a palmo com o PT.

Na prática, os 14 partidos que integram o Conselho Político do governo Dilma vão se debruçar sobre o mapa eleitoral com a expectativa de um acerto sobre a "multiplicação" de Lula nos comícios e até mesmo na propaganda política. O prazo final para as convenções que homologarão as candidaturas é junho.

                        Kassab

A movimentação do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab - que procurou Lula para conversar sobre a possível aliança do PSD com o PT -, também provoca ciúme nos aliados tradicionais. Kassab sugeriu um nome do PSD, como o do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para vice de Fernando Haddad, ministro da Educação e pré-candidato do PT à Prefeitura paulistana. Meirelles já disse ao comando do PSD que não entrará na disputa.

Ao mesmo tempo, porém, Kassab negocia uma aproximação com o PSDB e insiste no nome do vice-governador Guilherme Afif Domingos (PSD) como cabeça de chapa.

Na prática, a investida de Kassab - ainda que vista com ceticismo nos dois lados e encarada como um ultimato político aos tucanos - provoca mais entusiasmo no Palácio do Planalto do que na cúpula petista, que sempre desconfia de suas atitudes.
"Não podemos nos esquecer que 2012 é a antessala para a corrida presidencial de 2014",
insistiu Alves, o líder do PMDB na Câmara.

"É preciso respeito à base aliada nas campanhas e teremos de administrar essa situação."

                       Abusos

Em 2010 e 2008, Lula foi multado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sob acusação de ter cometido "excessos" nos palanques.

Se persistir o atual cenário político, o PT e o PMDB estarão em lados opostos nas disputas por prefeituras de 14 das 26 capitais, como São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Recife e Natal.

"O prestígio do Lula é inegável, mas, se o Haddad não mostrar competência, não há ninguém que o eleja", resumiu o deputado Gabriel Chalita, pré-candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo.

Chalita afirmou não acreditar que o ex-presidente faça algum gesto contra ele na campanha. "Ninguém precisa destruir ninguém. É possível um pacto de não agressão entre nós", comentou.

Descrente de um acordo com o PT, o deputado Paulo Pereira da Silva, pré-candidato do PDT à sucessão de Kassab (PSD), já antevê problemas. "Nós esperamos do Lula e da Dilma um comportamento de aliados, e não de adversários", provocou Paulinho, como é conhecido.

Presidente da Força Sindical, o deputado vive às turras com o PT há algum tempo e as rusgas só pioraram com a queda do ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT).

"O problema é que o PT não respeita ninguém. Depois, não dá para cobrar apoio no segundo turno, porque aí as coisas complicam", criticou ele.

O presidente do PT, Rui Falcão, amenizou as cotoveladas na base aliada e garantiu que Lula ajudará o partido, quando terminar o tratamento médico. "Ele me disse que fará no máximo uma palestra por mês. O resto do tempo vai viajar e fazer campanha para o 13 e para o PT."

Na avaliação do vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, a coalizão que representa o governo Dilma deve se empenhar para repetir a parceria federal no maior número possível de cidades. "Mas isso não pode ser uma camisa de força", ressalvou. Ele sugere que o pacto de boa convivência nas campanhas seja capitaneado por Dilma e Lula.

A presidente não pedirá votos de forma ostensiva, mas pode gravar mensagens de apoio a candidatos da preferência do Planalto e participar de comícios. Para evitar acusações de uso da máquina, a Advocacia Geral da União vai preparar cartilha com informações sobre o que Dilma e os ministros devem evitar.


11 de Janeiro de 2012


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Última centelha



Houve quem achasse precipitada a ação da polícia e do governo de São Paulo ao invadir e desbaratar, mesmo temporariamente, a cracolândia
 
POR RUY CASTRO
FOLHA DE SP

E imprudente, ao espalhar os usuários de crack por áreas da cidade até então a salvo do convívio com aquelas pessoas.

Argumentam também que as ações de segurança e saúde pública devem ser feitas em conjunto e não adianta desgraçar ainda mais a vida dos infelizes sem uma alternativa de tratamento.


Todos os argumentos são válidos, inclusive este, mas há fatores a considerar.

Enquanto ilhados naquela região de São Paulo, os usuários sentiam-se seguros dentro da sua miséria.

Suas únicas relações eram entre si e com quem comerciavam para conseguir dinheiro ou droga.

Era uma cadeia produtiva fechada, que poderia durar pelo resto da (curta) vida de cada um, e não os induzia a considerar a hipótese de lutar pela recuperação.


Ou a sequer considerar seu dia-a-dia na cracolândia, composto de síndrome de abstinência, mendicância, extorsão, indescritível imundície, animais peçonhentos, feridas expostas, assalto sexual permanente, estupro, gravidez, aborto, fome, doença e dor -tudo isso compensado pelos breves momentos de alívio produzidos pela droga.

Não existe prazer na cracolândia, só alívio.


Uma ação como a da semana passada, cortando o elo entre o usuário e seus iguais, ou entre o usuário e o traficante, tende a ser algo desesperador para o dependente.

Como ele não consegue passar muito tempo sem o produto, a quebra na cadeia, se repetida, pode levá-lo, num extremo, a tornar-se violento e ameaçador -e, em outro, a procurar ajuda, quem sabe internação e tratamento.


Expulsos de seu habitat, ainda que por algumas horas, esses dependentes têm uma chance de exercer a última centelha de razão que lhes resta.

 11/01/12

Das 170 áreas com alto risco de deslizamento na serra, só oito passaram por obras de recuperação de encosta



Rio de Janeiro


Em documento, o Crea-RJ aponta negligência do poder público na prevenção de enchentes e deslizamentos. Prefeituras se limitaram às ações de curto prazo

Veja on
 
Cecília Ritto, do Rio de Janeiro
Deslizamentos de terra na serra de Nova Friburgo, em janeiro de 2011 (Marcelo Vallin)

“O planejamento não inclui apenas fazer o diagnóstico. Também é necessário fazer o tratamento. E foi a parte do tratamento que não foi feita durante esse um ano”, afirma o presidente do Crea-RJ


Após a tragédia que matou quase mil pessoas na Região Serrana, em 2011, foram detectadas 170 áreas com alto risco de deslizamento de encostas. Passado um ano, em apenas oito desses lugares as obras de recuperação do talude foram iniciadas - e não necessariamente terminadas.
 

A informação consta no relatório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de janeiro de Janeiro (Crea –RJ), divulgado nesta quarta-feira.

Segundo o presidente da entidade, Agostinho Guerreiro, essas obras deveriam ter sido finalizadas no período de estiagem, que foi até outubro de 2011.

“O planejamento não inclui apenas o diagnóstico. Também é necessário fazer o tratamento. E foi a parte do tratamento que não foi feita durante esse um ano”, afirma Guerreiro. Um dos responsáveis pelo relatório foi o assessor de Meio Ambiente do Crea e engenheiro civil sanitarista Adacto Ottoni.

Ele foi à Região Serrana na semana passada para elaborar o balanço do que foi feito e do que precisa ser executado. Conclusão: “Basta cair metade da chuva que atingiu a serra no ano passado para se ter uma nova tragédia”, disse Ottoni.


O relatório lista medidas que deveriam ser adotadas, mas que foram negligenciadas pelo poder público. Uma delas é a falta de providências em relação aos deslizamentos e às enchentes.

A conseqüência é o entupimento do sistema de drenagem na parte baixa das encostas, o assoreamento e a poluição. A desocupação desordenada do solo também foi ponto de destaque.

São desmatadas áreas de preservação permanente para que famílias morem ou para a execução de atividades agrícolas e de pecuária. A ocupação de topos de morros, taludes de encostas com inclinação acima de 45º e faixas marginais de proteção de rios vai contra o próprio Código Florestal.

“É um total descumprimento da lei”, diz Guerreiro.


Já é o terceiro estudo feito pelo Crea sobre os riscos que assombram a serra. Os três apontam saídas possíveis, mas, até o momento, o documento pouco foi usado pelos órgãos públicos.

O Conselho afirma ainda que o poder público só executou medidas de curto prazo, e deixou de lado obras estruturais, de médio e longo prazo, que devem ser postas em prática logo após o período das chuvas.


O Crea definiu nove obras necessárias para a Região Serrana. O primeiro passo já foi dado pelo governo do estado, responsável pelo mapeamento da área. Apesar de o Departamento de Recursos Minerais (DRM-RJ) ter oferecido às prefeituras o conhecimento sobre o seu solo, quase nada foi feito.

“Esses mapas são uma ferramenta de trabalho para tomar decisões e ações. Mas mapas de risco na gaveta não servem para nada”, afirmou o presidente do Crea-RJ.


Depois da tragédia, foram destinados 780 milhões para a reconstrução da serra. Desse dinheiro, cerca de 100 milhões foram aplicados. Prefeituras fizeram a festa com a dispensa de licitação e as reformulações de contrato e, por causa da
corrupção, parte do valor foi parar no ralo.

“Para dar um basta nas tragédias, precisava acabar com essa cultura implantada no nosso país”, diz Guerreiro.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Fidel propõe que um robô substitua Obama na Casa Branca



O ex-ditador cubano Fidel Castro sugeriu nesta segunda-feira que um robô seria a melhor solução para substituir o presidente
Barack Obama na Casa Branca,
diante da ausência de
"um candidato capaz de evitar uma guerra que acabe com a espécie humana"

DA FRANCE PRESSE
EM HAVANA

"Não é por acaso óbvio que o pior de tudo é a ausência na Casa Branca de um robô capaz de governar os Estados Unidos e impedir uma guerra que ponha fim à vida de nossa espécie?",
ironizou Fidel, em seu texto "O melhor presidente para os Estados Unidos", o segundo que publica neste ano.

"Estou certo de que 90% dos americanos inscritos (para as eleições de novembro), especialmente os hispânicos, e o crescente número da classe média, empobrecida, votariam no robô", acrescentou o líder comunista, afastado do poder desde julho de 2006 por razões de saúde.

Fidel Castro destacou que, para Obama, "bom articulador de palavras, imerso em sua busca desesperada pela reeleição, os sonhos de (líder dos direitos civis Martin) Luther King distam mais anos-luz do que a Terra do planeta habitável mais próximo".
"Pior ainda: qualquer dos congressistas republicanos presidenciáveis, ou um líder do (movimento republicano conservador) Tea Party carrega mais armas nucleares em suas costas do que ideias de paz em sua cabeça", enfatizou.

Em seu primeiro artigo do ano, Fidel afirmou que o mundo segue para um "inexorável" abismo, já que para ele "graves problemas" como a mudança climática ou o perigo de uma guerra nuclear estão longe de encontrar solução.

09/01/2012

Irã enriquece urânio em usina fortificada no deserto, diz ONU



O Irã ameaçou fechar o Estreito de Ormuz caso as instalações nucleares sejam atacadas


O Irã está enriquecendo urânio em um usina fortificada próxima à cidade de Qom, segundo confirmação feita nesta segunda-feira pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) da ONU.
O governo do Irã diz que seu programa nuclear tem finalidades pacíficas e nega estar desenvolvendo armas nucleares.


A usina de Fordo já havia sido identificada por imagens de satélite por agências de inteligência ocidentais em 2009.

Teerã diz que seu programa de enriquecimento de urânio teve início em 2007, mas a AIEA acredita que tenha começado em 2006.

A usina, fortificada, foi construída no subsolo pelas Forças Armadas, tornando-se um alvo bastante difícil de ataques aereos.

A porta-voz da AIEA, Gill Tudor, disse nessa segunda-feira, por meio de nota, que a agência tem condições de "confirmar que o Irã deu início à produção de urânio enriquecido a mais de 20%".

Estreito de Ormuz

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, voltou a reafirmar nesta segunda-feira que seu país não irá se dobrar às pressões do Ocidente.

Em um pronunciamento na TV, Khamenei disse que o Irã "sabe firmemente o que está fazendo e escolheu seu caminho e continuará no seu curso".

A tensão aumentou na região desde que os Estados Unidos anunciaram novas sanções ao Banco Central do Irã.

A União Europeia também disse que poderia impor um embargo às importações de petróleo iraniano.

Khamenei disse que as novas sanções não terão "nenhum impacto na nação".
Apesar das declarações desta segunda-feira do líder supremo, o Irã ameaçou fechar o estreito de Ormuz, por onde passa 20% do comércio mundial de petróleo.

O secretário de Defesa americano, Leon Panetta, advertiu no domingo que os Estados Unidos atuariam para "reabrir o estreito", caso fosse fechado.

9 de janeiro, 2012

Ahmadinejad chega à Venezuela e a consulesa venezuelana é expulsa de Miami



Ao contrário do que vi anunciado hoje no Brasil, Ahmadinejad chegou por volta das 7 da noite ao aeroporto de Maiquetía, na Venezuela, sendo recebido pelo vice-Presidente Elías Jaua e por membros da comunidade iraniana residentes naquele país.

Por Graça Salgueiro
MSM 

Internacional - América Latina



Ele veio com uma enorme comitiva de cem pessoas, encabeçada pelos ministros Ali Akbar Salehi (Relações Exteriores), Shamsedin Hoseini (Economia), Mehdi Ghazanfari (Indústria, Comércio e Minas) e Majid Namju (Energia).

Bem, se os “acordos” estão estritos ao campo comercial, por que vieram os ministros da Energia e de Minas?

A edição de ontem dá as pistas.

Apesar da pressão que os Estados Unidos estão fazendo sobre o Estreito de Ormuz e das ameaças de Ahmadinejad sobre o fechamento daquele importante estreito que é por onde escoa grande parte do petróleo, o ditador iraniano não descumpriu sua agenda porque no momento essa visita que fará a seus aliados Chávez, os Castro, Ortega e Correa é estratégica e de importância capital para o médio-longo prazo.

 
09 Janeiro 2012
 
 

A doença imaginária de Cristina Kirchner comprova que, para os populistas sul-americanos, câncer é cabo eleitoral




Direto ao Ponto



Depois de garantir a reeleição com a beatificação do marido morto, dezenas de modelitos pretos e a cara de choro de quem enviuvou ainda no berço, Cristina Kirchner resolveu aterrissar espetacularmente no clube dos governantes domadores de cânceres, fundado e dirigido por Hugo Chávez. “Exames de rotina, realizados no dia 22, localizaram um carcinoma papilar no lóbulo direito da glândula tireoide, e a presidente será operada no próximo dia 4 de janeiro”, comunicou em 28 de dezembro o porta-voz da Casa Rosada, Alfredo Scoccimarro, tentando dissimular a animação de quem sabe que, na terra do tango, tragédia dá voto.

Nos anos 50, Juan Domingo Perón prolongou a permanência no poder expondo à visitação pública uma Evita em ruínas e, depois, o cadáver da protetora dos descamisados.

Cristina foi mais ousada: em vez de explorar a doença dos outros, optou por um câncer pessoal e intransferível.

Deu certo.


Em vigília permanente, milhares de devotos atravessaram a semana passada acampados na Plaza de Mayo. Sobraçando faixas com a inscrição Fuerza Cristina, cantaram hinos peronistas, rezaram e choraram. Para a seita dos loucos por um martírio, foi um reveillon de sonho.

Excitado com o ingresso de Cristina Kirchner no quadro de sócios, que já incluía o cubano Fidel Castro, os brasileiros Lula e Dilma Rousseff e o paraguaio Fernando Lugo, o chefe da entidade informou que a primeira reunião da turma seria realizada assim que a companheira argentina tivesse alta.

E aproveitou a oportunidade para assombrar o mundo com a revelação: as enfermidades que andam surpreendendo governantes sul-americanos são coisa dos ianques


Mais precisamente da CIA, que teria descoberto como se faz para instalar tumores malignos em defensores do povo. 

 
O entusiasmo de Chávez contagiou o amigo Lula.

Ainda no meio do tratamento, o ex-presidente brasileiro reiterou que, em fevereiro, vai desfilar no Sambódromo a bordo de um carro alegórico da Gaviões da Fiel.

Também avisou que, em março, já com a faixa de campeão do Carnaval de São Paulo, homenageará o Rio com uma visita ao Morro do Alemão.

Dilma, Lugo e Fidel estavam prontos para entrar na festa desencadeada pela tireoide de Cristina quando se soube que a colega argentina só esqueceu de combinar com os médicos.

Ao fim da cirurgia de três horas, só foi encontrado um único e escasso tumor benigno.

“O exame histopatológico definitivo constatou a presença de nódulos nos dois lóbulos da glândula tireoide, mas descartou células cancerígenas, alterando o diagnóstico inicial”, conformou-se o porta-voz Scoccimarro, esforçando-se para conter a decepção.

“O novo diagnóstico levou os médicos a considerarem desnecessário o tratamento de quimioterapia”.

Durante quase dez dias, portanto, Cristina Kirchner enfrentou bravamente um câncer imaginário. Quem conta com a proteção do Beato Néstor vence quaisquer inimigos. Mesmo os que não existem.


No mundo civilizado, enquanto milhares de cientistas perseguem a cura da doença, incontáveis pacientes famosos ou anônimos enfrentam tumores malignos com coragem e discrição.

No subcontinente acanalhado pelo primitivismo populista, o espetáculo deprimente protagonizado por canastrões de bolero, heróis de chanchada e prima-donas de ópera demonstra que gente obcecada pelo poder transforma até câncer em cabo eleitoral.

09/01/2012

Dilma vive o Dia da Marmota. Ou: A chuva não é culpa dos governos, mas a incúria é!


O governo Dilma vive o Dia da Marmota.

Volta sempre ao mesmo.

Parece que foi ontem, não é?

E quase foi!

Por Reinaldo Azevedo

Em janeiro do ano passado, dada a tragédia absurda na Região Serrana do Rio — menos de um ano depois da tragédia também absurda do Morro do Bumba, em Niterói —, o Palácio do Planalto anunciou a tal força-tarefa contra as chuvas.

Neste 9 de janeiro de 2012, com Rio, Minas e Espírito Santo a enfrentar o caos das chuvas, eis que o enroladíssimo ministro Fernando Bezerra (Integração) anuncia, absurdamente, a criação de uma… força tarefa!


Chamem Ionesco!


Atenção! O céu não desaba por culpa do governo, pouco importa o partido.

Seria uma tolice — coisas que petistas fazem quando estão na oposição, e eu não sou petista — atribuir à administração de turno a responsabilidade pelas moradias em áreas de risco.

Há um conjunto de fatores que concorre pra isso, inclusive as escolhas das pessoas, sim!

É preciso parar com a tolice de achar que casas nascem no sopé dos morros.

Foram construídas lá.

Sigamos.

Os governos, petistas ou de outro partido qualquer, não são culpados por todo o mal que colhe os indivíduos.

Mas são, sim, responsáveis pelas promessas que fazem. Mais: têm de responder pelas tarefas que deixam de cumprir.

Nesse sentido, o governo Dilma é uma lástima, eventualmente superada, em escala regional, pelo administração de Sérgio Cabral, no Rio.

Mas ambos são, inegavelmente, muito bons de marketing.

Se chove demais, a culpa e de São Pedro.

Se as obras prometidas não são executadas, como se constata na região serrana do Rio, então a culpa é mesmo dos governantes, entenderam?


Como absurdo pouco é bobagem, em Campos (RJ), um trecho da Rodovia 356, que é federal, funciona como um dique de contenção das águas do rio Muriaé.

Pois bem: a enchente destruiu uma parte da estrada pelo terceiro ano consecutivo, o que obrigou a retirada de 4 mil pessoas de uma região chamada Três Vendas.

Pode-se dizer da estrada qualquer coisa, menos que foi construída de modo adequado.

O governo Dilma não pode ser responsabilizado pela enchente, é evidente, mas é culpado de manter uma estrada em condições que estão em desacordo com as exigências da natureza.

O que se vai fazer desta vez?

Torrar mais alguns milhões para consertar o trecho da estrada, que será destruído de novo em 2013?

Rezar para que, no ano que vem, chova menos?


O desastre reiterado da chuva — previsto no calendário da natureza desde tempos imemoriais — expõe de modo dramático a precariedade da administração pública brasileira.

Olhem para o Ministério da Integração, conduzido por este incrível Fernando Bezerra.

Nada menos de 90% das verbas destinadas à prevenção foram liberadas para seu estado, Pernambuco.

A pasta se transformou num feudo do PSB, partido chefiado por Eduardo Campos, governador do Estado, que vai se transformando no Aécio Neves que deu certo da política — esse “dar certo”, entenda-se, refere-se a esse padrão rebaixado de gestão que caracteriza o país.

Os ministérios são entregues de porteira fechada aos partidos, que os transformam em feudos. Atendidas as exigências dos correligionários, o titular da pasta tem como prioridade seguinte dar atendimento especial à sua base eleitoral.

Assim, instâncias do Estado brasileiro vão sendo privatizadas por grupos políticos, que usam o dinheiro público para reforçar seus aparelhos partidários e seus esquemas de poder.

E quem denuncia o desmando?

Caberia, por exemplo, à oposição fazê-lo, mas sabem como é…

Minas é hoje o estado mais castigado pelas chuvas.

O tucano Antonio Anastasia, governador, teria a autoridade que lhe confere o eleitorado para cobrar, por exemplo, mais responsabilidade e equanimidade do governo federal na liberação das verbas.

Mas preferiu não fazê-lo.

Afinal, o PSB é seu aliado no estado…

Qual é a conseqüência prática dessas posturas?

O contínuo rebaixamento do padrão de gestão.


Antecipo aqui algumas informações aos nossos governantes.

Em 2013, vai chover bastante. Haverá enchentes. Na região serrana do Rio, haverá desabamentos. O rio Muriaé vai forçar o dique (santo Deus!) da Rodovia 356. Casas penduradas em morros vão cair; outras, construídas no sopé, sem que o poder público tenha movido uma palha para impedir, serão soterradas…

São Pedro é aborrecido.

Ele conta com os homens para fazer a coisa certa.


Não obstante, Dilma continuará a lotear o governo, entregando ministérios de porteira fechada aos aliados, e os ministros continuarão a usar a estrutura do estado para atender ao seu arraial.

O Palácio fará saber que a presidente deu uma bronca severa neste ou naquele ministros.

E muitos dirão: “Essa presidente é mesmo danada! Demite seis ministros que ela mesma nomeou por suspeita de corrupção e ainda diz aos que ficam:

‘Trabalhem!’

Que mulher operosa!”


Dilma foi eleita por setores da imprensa a ombudsman do governo… Dilma!

09/01/2012  
 
 

domingo, 8 de janeiro de 2012

O Cemitério de Praga








O escritor Umberto Eco completou 80 anos no último dia 5, e está de volta às manchetes literárias com seu novo romance 'O Cemitério de Praga', livro que acabo de ler (e recomendo)


Por Rodrigo Constantino

Trata-se de uma história envolvente, cujo personagem principal, o único importante que é criado pelo autor, não passa de um pulha, um canalha que aceita qualquer coisa em troca de dinheiro. Sua vida é uma série de farsas e crimes, a cada momento atendendo a um cliente de lado diferente, algumas vezes simultaneamente.

Mas eis o que eu gostaria de destacar do livro: o alerta de como é perigoso selecionar uma “raça” como bode expiatório para todos os males do mundo é válido e sempre atual.

Os homens parecem inclinados a crer em teorias conspiratórias que simplificam um mundo complexo e jogam a responsabilidade de nossos problemas para ombros alheios. Se tais ombros forem de um povo minoritário e facilmente identificável, então o trabalho é mais fácil ainda.

O personagem principal, Simone Simonini, escreve em seu diário: “Sempre conheci pessoas que temiam o complô de algum inimigo oculto – os judeus para vovô, os maçons para os jesuítas, os jesuítas para meu pai garibaldino, os carbonários para os reis de meia Europa, o rei fomentado pelos padres para meus colegas mazzinianos, os Iluminados da Baviera para as polícias de meio mundo – e, pronto, quem sabe quanta gente existe por aí que pensa estar ameaçada por uma conspiração...

Aí está uma forma a preencher à vontade, a cada um o seu complô”.

Por trás do encanto pelas teorias conspiratórias, jaz o ressentimento: “A que aspira cada um, tanto quanto mais desventurado for e pouco amado pela sorte?

Ao dinheiro e, conquistado esse sem fadiga, ao poder (que volúpia em comandar um semelhante e em humilhá-lo!) e à vingança por todos os agravos sofridos (e todos sofreram na vida ao menos um agravo, por menor que tenha sido). [...]

Afinal, pergunta-se cada um, por que fui desfavorecido pela sorte (ou ao menos não tão favorecido quanto gostaria), por que me foram negados benefícios concedidos a outros menos merecedores do que eu?

Como ninguém pensa que suas desventuras possam ser atribuídas à sua mediocridade, eis que se deverá identificar um culpado”.


Logo, muitos desejam encontrar este grupo, esta classe, esta raça responsável por seus problemas, suas misérias. O trabalho do criador de complôs fica então bastante facilitado, pois ele encontra um público ávido por suas invenções e mentiras. “Convém que as revelações sejam extraordinárias, perturbadoras, romanescas. Somente assim tornam-se críveis e suscitam indignação”.

Além disso, “você jamais deve criar um perigo de mil faces, o perigo deve ter uma só, senão as pessoas se distraem”. Os judeus, povo durante muito tempo sem Pátria e, portanto, minoritário, relativamente fácil de ser identificado, e com muitos casos de sucesso material (até porque a Igreja sempre os ajudou, condenando a prática da usura entre seus seguidores), eram um alvo evidente para as teorias conspiratórias.

Como o russo Rachkovsky explica no livro: “Para ser reconhecível e temível, o inimigo deve estar em casa ou na soleira de casa. Eis por que os judeus. Eles nos foram dados pela Divina Providência, então vamos usá-los, meu Deus, e rezemos para que haja sempre um judeu a temer e a odiar. É necessário um inimigo para dar ao povo uma esperança. Alguém já disse que o patriotismo é o último refúgio dos canalhas: quem não tem princípios morais costuma se enrolar em uma bandeira, e os bastardos sempre se reportam à pureza da sua raça. A identidade nacional é o último recurso dos deserdados. Muito bem, o senso de identidade se baseia no ódio, no ódio por quem não é idêntico. É preciso cultivar o ódio como uma paixão civil. O inimigo é o amigo dos povos. É sempre necessário ter alguém para odiar, para sentir-se justificado na própria miséria. O ódio é a verdadeira paixão primordial”.

Foi desta forma que nasceu Protocolos dos Sábios de Sião, um conjunto de textos mentirosos que imputavam aos judeus um complô para dominar o mundo. Ele fora forjado pela polícia secreta do Czar Nicolau II, e ganhou inúmeras traduções pelo mundo todo, ajudando a disseminar o antissemitismo. Em 1921, o London Times descobriu as relações com o livro de Joly, publicado muitos anos antes, e denunciou os protocolos como uma falsificação. Mas o encanto pelas teorias conspiratórias falou mais alto, e o livro foi publicado várias vezes como autêntico depois disso.

Hitler, em Minha Luta, chega a escrever que os protocolos são verdadeiros, e a melhor prova é que os judeus negam sua veracidade. Para o nazista, quando todos tiverem conhecimento dos incríveis planos judaicos, o mundo estará perto da “solução final”, ou seja, o extermínio desta “raça”.

O horror do Holocausto, resultado desta campanha antissemita intensiva ao longo de décadas, ainda está fresco na memória de muitos. Mas o risco é sempre real, especialmente em tempos de crises, pois os homens são suscetíveis a teorias conspiratórias mirabolantes, e os judeus sempre serão um alvo fácil.

Nada mais reconfortante para os medíocres do que crer que seus infortúnios são obra de uma cúpula pequena reunida em locais secretos para construir complôs e dominar a humanidade.

É tudo culpa “deles”.

E assim os fracassados alimentam o ódio que aquece suas almas.



                                08.01.2012