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quarta-feira, 29 de maio de 2013

E agora? Com a Caixa e o governo admitindo “erro” na confusão do Bolsa Família, a ministra Maria do Rosário deveria pedir demissão, Rui Falcão deveria pedir desculpas — e por aí vai. Alguém acredita nisso?


Por Ricardo Setti

Rui Falcão, presidente do PT, e Maria do Rosário, ministra de Direitos Humanos: nada de desculpas nem de demissão (Fotos: Ricardo Weg / PT :: Marcelo Camargo / ABr)

De forma absolutamente irresponsável, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, acusou uma inexistente “central de boatos da oposição” pelo princípio de pânico e corrida a aos caixas eletrônicos de milhares de beneficiários do Bolsa Família no sábado, 18.

O inefável Rui Falcão, presidente nacional do PT, enxergou “terrorismo eleitoral” nos fatos, mirando igualmente, da mesma forma leviana e irresponsável, a oposição.

Lula, que não sossega a língua, atribuiu a coisa a “gente do mal”, enquanto o ministro da Justiça mencionava, sem contudo apontar culpados, uma suposta “manobra orquestrada”.

E, no entanto, como se viu, tudo se deveu a um “erro” da Caixa Econômica Federal, admitido e explicado pelo próprio presidente da entidade, Jorge Hereda, que teve a dignidade de também pedir desculpas.

Num país decente, numa democracia que se preze, a ministra Maria do Rosário deveria pegar seu boné e ir para a casa. Uma acusação absurda e infundada — mesmo que mal e canhestramente retificada depois — é motivo mais do que suficiente para, uma vez desmentida pelo próprio governo a que pertence, um integrante da equipe ir embora.

Somos, porém, uma República sem-vergonha, e a ministra está lá, feliz e lampeira, como se nada tivesse ocorrido.

Igualmente um dos luminares estalinistas do lulopetismo, Rui Falcão, agora finge que não é com ele a declaração de “terrorismo eleitoral”. Não dá um pio, e mais dia menos dia vai incidir no mesmo tipo de leviandade, hábito que se acentuou depois que assumiu o atual cargo, há pouco mais de dois anos.

Quem se houve bem no episódio foi a presidente Dilma Rousseff: fez com que gente do governo parasse de falar publicamente em conspiração, pediu uma apuração dos fatos e chamou o presidente da Caixa Econômica para uma conversa em que ficou clara a responsabilidade do próprio governo no episódio. É verdade que a presidente, enquanto imaginou que a origem de tudo fora um boato, classificou-o como “desumano e criminoso”, mas não chegou a insinuar responsabilidades.

Mais duas perguntinhas só:


1) Lula disse que a corrida aos caixas se deveu a ação praticada por “gente do mal”? Estaria se referindo ao presidente da Caixa? Ou a quem mais no governo?

2) O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, terá detectado uma “manobra orquestrada” da qual ele mesmo fez parte (leia abaixo)?

Confiram agora reportagem do Estadão mostrando quem de fato errou no episódio:
CAIXA E GOVERNO ADMITEM “ERRO” AO OMITIR PAGAMENTO ANTECIPADO DO BOLSA FAMÍLIA

Anne Warth e Ricardo Della Coletta / Brasília

O governo federal disse nesta segunda-feira, 27, que errou ao tratar publicamente dos boatos sobre o fim do Bolsa Família que levaram milhares de pessoas a caixas eletrônicos dez dias atrás.

Integrantes da gestão Dilma Rousseff admitiram que seguraram por pelo menos quatro dias a informação segundo a qual os recursos do programa social foram liberados para saque na véspera da corrida aos bancos iniciada no dia 18.

Entre segunda-feira, dia 20, e sexta-feira, dia 24, a versão oficial dava conta de que a liberação do benefício havia ocorrido só após o início dos tumultos em agências bancárias da Caixa Econômica Federal, responsável por distribuir as verbas.

Nesse período, integrantes do governo Dilma classificaram os boatos como uma “ação orquestrada”.

A ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Maria do Rosário, chegou a falar em uma “central de boatos da oposição”.

Após quatro dias a Caixa divulgou nota confirmando que a liberação havia, sim, sido feita no dia 17.

Nesta segunda-feira, 27, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, admitiram que sabiam já naquela segunda-feira do dia 20 que o banco havia antecipado a liberação dos recursos.

Hereda disse, em uma entrevista concedida após Dilma pedir que ele desse um esclarecimento público, que a primeira versão oficial se tratou de um “erro”.

A Caixa nega, porém, que a liberação excepcional de recursos do Bolsa Família na véspera tenha motivado os boatos sobre o fim do benefício e causado a corrida aos caixas eletrônicos. Já a oposição diz que esse pode, sim, ter sido o motivo do pânico.

Questionado sobre o motivo de ter levado quatro dias para confirmar a informação, Hereda disse que ordenou, ainda na segunda-feira, que fosse feito um levantamento completo sobre o ocorrido, que teria levado uma semana para ser concluído.

“Eu sou presidente de um banco e não vou a público apenas com parte da informação”, afirmou Hereda. “Essa imprecisão só se justifica pelo momento que a gente estava vivendo e eu peço desculpas pelo engano na manifestação”.

Já o vice-presidente de Governo do banco, José Urbano, disse que não houve demora. “Se três dias é muito tempo, é uma questão de opinião.”

Falhas.

Segundo a Caixa, desde março atualizações no sistema de beneficiários mostraram que cerca de 692 mil famílias possuíam mais de um cadastro, chamado de número NIS.

O banco decidiu eliminar a duplicidade e adotar apenas o número mais antigo para fazer o depósito.

Como o calendário de pagamentos segue a ordem do último número desse cadastro, o banco justificou a antecipação para evitar que algumas famílias tentassem sacar o benefício sem que ele estivesse liberado.

Mas, conforme Hereda, nenhum beneficiário foi avisado sobre essa liberação antecipada.

Segundo a Caixa, os beneficiários somente foram contatados a partir de segunda-feira, 20. Por SMS, 2,588 milhões de celulares, de usuários de 13 Estados, receberam às 20h a seguinte mensagem: “A Caixa informa: o Bolsa Família está sendo pago normalmente, de acordo com o calendário de pagamentos. Não acredite em boatos”.

Urbano negou também que a Caixa tenha deixado prosperar o boato de que o fim do Bolsa Família estivesse ligado à oposição. “Jamais iríamos tomar essa iniciativa de saber que houve um problema e deixar que ele continuasse acontecendo.”

O vice-presidente do banco disse que o boato ocorreu independentemente das ações da Caixa. “Ele aconteceu por um fator alheio à decisão, e pode ter se valido dessa decisão. A Polícia Federal vai investigar, mas esse não foi o fator motivador”, afirmou o dirigente da Caixa.

Dilma ficou preocupada com o impacto dos boatos sobre o fim do Bolsa Família, razão pela qual chamou Hereda na segunda-feira para uma reunião pela manhã.

Nesse encontro, pediu que o presidente da Caixa desse as explicações públicas.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, criador do Bolsa Família, classificou nesta segunda os boatos sobre o fim do benefício como um “ato de vandalismo”.

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