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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Para Lula, papel de jornalista é servir de policial do regime petista. E ainda: Foi ele quem chamou pobre que recebe Bolsa Família de vagabundo. E é possível provar

         


Por Reinaldo Azevedo

Embora ninguém consiga entender direito o que querem Marina Silva e Eduardo Campos, vejo muita gente dar certo suspiro de alívio, como se houvesse um sopro renovador na política. Ele é, a meu ver, enganoso (ainda teremos muito tempo para tratar do assunto), mas entendo os motivos. Ainda que Lula continue a ser o político mais popular do Brasil e pudesse se reeleger presidente no primeiro turno, há um crescente cansaço com sua ladainha. O programa de TV do PSB, diga-se, explorou essa sensação. O próprio Eduardo Campos sintetizou: “Chega de dizer que no passado já foi pior”. Isso, convenham, pode ser uma síntese da pregação de Lula. O ex-presidente participou, nesta quinta, do encerramento da 3ª Conferência Global de Combate ao Trabalho Infantil, promovido pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), órgão ligado à ONU. É evidente que convidar alguém como ele para discursar num evento como esse implica dar um viés partidário, de política local, ao que deveria ser, como diz o nome, um acontecimento global. E o homem estava num daqueles dias em que foi pródigo, generoso mesmo, nas bobagens. Ficou claro por que ele e seus tontons-maCUTs odeiam tanto a imprensa livre. Lula nunca entendeu para que serve e qual é o papel dos jornalistas. Demonstrou isso mais uma vez.
Referindo-se ao trabalho da imprensa, afirmou: “Você [Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social] foi criticada agora porque clonaram 80 carnês do Bolsa Família. Em vez de a manchete do jornal ser uma crítica aos clonadores, era uma crítica dizendo que tinha fraude no Bolsa Família. Se tivessem roubado um banco, dizia: ‘assaltante rouba banco’. Como foi assaltante roubando o Bolsa Família, é o Bolsa Família que tem problema. Nós estamos acostumados a tomar bordoada e eles sabem que temos casco de tartaruga, somos teimosos e estamos no caminho certo”.
A afirmação tem casco, sim, mas não é de tartaruga, um bicho meio mal-encarado, convenham, mas que não escoiceia ninguém nem emite estranhos zurros à guisa de pensamento. Se aparecem fraudes no Bolsa Família, está entre as atribuições da imprensa denunciá-las ou, quando menos, noticiar a sua existência. A comparação com o banco é estúpida. Dificilmente um assalto poderá ser atribuído a mecanismos ineficientes de controle, menos ainda, por razões óbvias, a uma manejo fraudulento de uma política pública. Ainda assim, caso a imprensa constate que a segurança da agência é ineficaz ou errada, isso será notícia.
Lula finge ignorar a dimensão pública do trabalho da imprensa. Gostaria que jornalistas se comportassem como meros policiais do regime petista: dada uma falcatrua qualquer, o jornalista se concentraria, então, nos erros do “bandido”, ignorando as falhas da administração que eventualmente facilitaram a ação de larápios. Há mais: a depender do caso, o bandido em questão e os próprios gestores estão associados, em conluio. Pior ainda: larápios e gestores públicos podem estar unidos a um partido político, e a safadeza pode fazer parte de um projeto de conquista do Estado, como foi o caso do mensalão, o maior escândalo — VIU, MINISTRO BARROSO? — da história da República. Tratou-se, como se sabe, de uma tentativa de golpe nas instituições.
O principal papel do jornalista que se respeita, senhor Luiz Inácio, não é caçar bandido. Isso é tarefa da polícia. Um jornalista deve é se ocupar de corrigir as instituições, segundo as regras estabelecidas pelo estado democrático e de direito. É por isso que não pode se contentar apenas com a crítica ao pé de chinelo que fez isso ou aquilo. Mas essa, claro!, é a visão que Lula tem da imprensa depois que chegou ao poder, em 2003. Quando ele estava na oposição, jamais reclamou do jornalismo, que sempre, com raras exceções, lhe puxou o saco. Ele mesmo já disse, num rasgo de lucidez, certa feita, que ele próprio era produto da imprensa livre. E é! Mesmo quando dizia bobagens cabeludas em economia, política e o que mais fosse, era tratado como uma força da natureza, um pensador original, o portador de uma verdade revelada.
O ombudsman O líder político que gostaria que jornalistas se comportassem como meros policiais também resolveu ser ombudsman da imprensa. Afirmou: “Quero confessar que eu tinha a impressão de que esse evento estava proibido para a imprensa porque um assunto dessa magnitude, com os resultados extraordinários conquistados por muitos países do mundo e pelo Brasil, mereceu menos atenção do que qualquer outro assunto banal do noticiário brasileiro. É uma pena que, muitas vezes, as coisas sérias não são tratadas com seriedade, é uma pena que as coisas banais, as coisas secundárias, sejam tratadas de forma quase sensacionalista.”
“Coisa séria” é tudo aquilo que serve ao propósito de Lula e de seu partido. “Sensacionalismo” é a notícia que não é do seu interesse. O petismo gasta muitos milhões do dinheiro público para alimentar o sistema oficial de comunicação e para pagar a rede suja que presta vassalagem ao petismo. Fazem isso assegurando que representam a novidade e que todo o resto é a chamada “velha mídia”. Por que, então, não conseguiram tornar influente assunto tão relevante? Se a “velha mídia” não está com nada, como querem os petistas, deixem-na, então, em paz e regozijem-se com seus próprios meios, não é mesmo?
A grande farsa Lula só consegue articular um discurso imaginando que há um inimigo à espreita. Voltando a seu esporte predileto, que é brincar de arranca-rabo de classes, referiu-se nestes termos ao Bolsa Família: “O que dá para os ricos é investimento e, para os pobres, é gasto, a ponto de dizerem na minha cara que nós estávamos criando [com o Bolsa Família] um exército de vagabundos”.
O primeiro a dizer que os programas de bolsas deixavam os pobres vagabundos foi Lula. E o fez de maneira explícita, arreganhada. No vídeo abaixo, ele aparece dois momentos: exaltando o Bolsa Família, já presidente da República, e no ano 2000, quando chamava os programas de assistência direta (como o Bolsa Família) de esmola. Vejam.

             

Pobre vagabundo
Mas foi bem mais explícito. Nos primeiros meses como presidente, Lula era contra os programas de bolsa que herdou de FHC. Ele queria era assistencialismo na veia mesmo, distribuir comida, com o seu programa “Fome Zero”, uma ideia publicitária de Duda Mendonça, que ele transformou em diretriz de governo. Deu errado. O Fome Zero nunca chegou a existir.
demonstrei isso aqui. No dia 9 de abril de 2003, com o Fome Zero empacado, Lula fez um discurso no semiárido nordestino, na presença de Ciro Gomes, em que disse com todas as letras que acreditava que os programas que geraram o Bolsa Família levavam os assistidos à vagabundagem. Querem ler? Pois não!
Eu, um dia desses, Ciro [Gomes, ministro da Integração Nacional], estava em Cabedelo, na Paraíba, e tinha um encontro com os trabalhadores rurais, Manoel Serra [presidente da Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura], e um deles falava assim para mim: “Lula, sabe o que está acontecendo aqui, na nossa região? O povo está acostumado a receber muita coisa de favor. Antigamente, quando chovia, o povo logo corria para plantar o seu feijão, o seu milho, a sua macaxeira, porque ele sabia que ia colher, alguns meses depois. E, agora, tem gente que já não quer mais isso porque fica esperando o ‘vale-isso’, o ‘vale-aquilo’, as coisas que o Governo criou para dar para as pessoas.” Acho que isso não contribui com as reformas estruturais que o Brasil precisa ter para que as pessoas possam viver condignamente, às custas do seu trabalho. Eu sempre disse que não há nada mais digno para um homem e para uma mulher do que levantar de manhã, trabalhar e, no final do mês ou no final da colheita, poder comer às custas do seu trabalho, às custas daquilo que produziu, às custas daquilo que plantou. Isso é o que dá dignidade. Isso é o que faz as pessoas andarem de cabeça erguida. Isso é o que faz as pessoas aprenderem a escolher melhor quem é seu candidato a vereador, a prefeito, a deputado, a senador, a governador, a presidente da República. Isso é o que motiva as pessoas a quererem aprender um pouco mais.
Notaram a verdade de suas palavras? A convicção profunda? Então…
No dia 27 de fevereiro de 2003, Lula já tinha mudando o nome do programa Bolsa Renda, que dava R$ 60 ao assistido, para “Cartão Alimentação”. Vocês devem se lembrar da confusão que o assunto gerou: o cartão serviria só para comprar alimentos?; seria permitido ou não comprar cachaça com ele?; o beneficiado teria de retirar tudo em espécie ou poderia pegar o dinheiro e fazer o que bem entendesse?
A questão se arrastou por meses. O tal programa Fome Zero, coitado!, não saía do papel. Capa de uma edição da revista Primeira Leitura da época: “O Fome Zero não existe”. A imprensa petista chiou pra chuchu.
No dia 20 de outubro, aquele mesmo Lula que acreditava que os programas de renda do governo FHC geravam vagabundos, que não queriam mais plantar macaxeira, fez o quê? Editou uma Medida Provisória e criou o Bolsa Família? E o que era o Bolsa Família? A reunião de todos os programas que ele atacara em um só. Assaltava o cofre dos programas alheios, afirmando ter descoberto a pólvora. O texto da MP não deixa a menor dúvida: (…) programa de que trata o caput tem por finalidade a unificação dos procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do Governo Federal, especialmente as do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação – “Bolsa Escola”, instituído pela Lei n.° 10.219, de 11 de abril de 2001, do Programa Nacional de Acesso à Alimentação – PNAA, criado pela Lei n.° 10.689, de 13 de junho de 2003, do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Saúde – “Bolsa Alimentação”, instituído pela medida provisória n.° 2.206-1, de 6 de setembro de 2001, do Programa Auxílio-Gás, instituído pelo Decreto n.° 4.102, de 24 de janeiro de 2002, e do Cadastramento Único do Governo Federal, instituído pelo Decreto n.° 3.877, de 24 de julho de 2001.
Compreenderam? Bastaram sete meses para que o programa que impedia o trabalhador de fazer a sua rocinha virasse a salvação da lavoura de Lula. E os assistidos passariam a receber dinheiro vivo. Contrapartidas: que as crianças frequentassem a escola, como já exigia o Bolsa Escola, e que fossem vacinadas, como já exigia o Bolsa Alimentação, que cobrava também que as gestantes fizessem o pré-natal! Esse programa era do Ministério da Saúde e foi implementado por Serra.
E qual passou a ser, então, o discurso de Lula?
Ora, ele passou a atacar aqueles que diziam que programas de renda acomodavam os plantadores de macaxeira, tornando-os vagabundos, como se aquele não fosse rigorosamente o seu próprio discurso, conforme se vê no vídeo e voltou a repetir nesta quinta.
Encerro Seria, de fato, muito bom que a política brasileira deixasse de ser refém dessa empulhação, dessa conversa mole. Não creio, infelizmente, que isso possa se dar com a dupla Marina-Eduardo Campos (sim, claro, volto ao tema) e vejo que a oposição ainda está sem discurso e sem eixo. O programa do PSB, no entanto, acerta ao captar certo clima de enfaro, de saco cheio mesmo, com essa ladainha lulista. Este senhor emburrece o debate político com sua conversa mole para desmemoriados.
                                 
  
                                  11/10/2013

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Mais um sonho desfeito



Editorial do Estadão





Além de sua importância para o mercado e para os investidores, a fusão da companhia brasileira de telecomunicações Oi com a Portugal Telecom, que assume a gestão da nova empresa, tem também um significado político de grande relevância. Ela simboliza o fracasso – mais um, entre tantos outros – da política do governo do PT de mobilizar grande volume de recursos públicos, beneficiar grupos empresariais privados por ele escolhidos e modificar regras e normas para formar o que vinha chamando de empresas campeãs nacionais capazes de conquistar espaço no mercado internacional. É mais um sonho de grandeza criado durante o governo Lula que se desvanece na realidade da vida empresarial.
A história da Oi e de suas antecessoras é, em boa medida, a história do ativismo e do intervencionismo estatal no setor de telefonia muitas vezes justificados pela necessidade de viabilizar a entrada de empresas privadas em setores antes dominados por estatais, mas também marcados por intrigantes trocas de favores.

O leilão de concessão da Tele Norte-Leste, que reunia operadoras de 16 Estados até então controladas pela Telebrás, foi vencido em 1998 pelo grupo – formado, entre outras, por uma empresa da área comercial, uma construtora de grande porte e companhias de seguro – que ofereceu ágio de apenas 1%.

Para viabilizar a operação, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) entrou no consórcio com significativa participação no capital, mas com a disposição de dele se retirar assim que houvesse um investidor para assumir a sua parte.

Dez anos depois, na metade do segundo mandato de Lula, o governo voltou a apoiar o grupo, já com o nome de Oi, para viabilizar a compra da Brasil Telecom (BrT), com o que se formaria o que se chamou de “supertele” brasileira, uma empresa forte financeiramente e com capacidade técnica para operar em outros países. Seria o que, na área de telecomunicações, o BNDES passou a chamar de empresa campeã, cuja constituição apoiaria fortemente.

Para permitir a formação da “supertele”, além de assegurar-lhe apoio financeiro, o governo teve de mudar o Plano Geral de Outorgas (PGO), dele eliminando a regra segundo a qual a operadora poderia atuar em apenas uma das quatro regiões em que o país foi dividido. Assim, a Oi tornou-se a primeira tele de alcance nacional.

Não passou despercebido, na ocasião, o fato de que, entre os principais sócios da Oi, estava a construtora Andrade Gutierrez, principal financiadora da campanha que levou Lula à Presidência da República.

Igualmente foi observado que a Oi tinha sido investidora da Gamecorp, empresa especializada em produção de programas de televisão e de jogos para celular, da qual o principal sócio era Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente da República.

Mas, em vez de se transformar na “supertele” pretendida pelo governo, a Oi – cujos sócios principais, desde o início, não eram do setor de telecomunicações – passou a enfrentar dificuldades, sintetizadas na dívida de mais de R$ 29 bilhões.

A soma das dívidas da Oi e da Portugal Telecom alcança R$ 45,6 bilhões. A capacidade de geração de recursos, expressa no conceito de Ebtida (lucro antes dos juros, depreciações, amortizações e impostos), nos últimos 12 meses alcançou R$ 12,5 bilhões.

Ou seja, a dívida é 3,64 vezes maior do que a capacidade de geração de recursos, relação um pouco maior do que a considerada tolerável pelos analistas financeiros (de 3,5 vezes).

O BNDES investiu cerca de R$ 18 bilhões na criação das “campeãs nacionais”. Elas receberam recursos do banco público para operações de fusão ou aquisição, inclusive no exterior.

Uma delas, a Lácteos Brasil (LBR), em regime de recuperação judicial, impôs prejuízos estimados em R$ 700 milhões ao banco estatal. Já as ações de outras empresas escolhidas como “campeãs” tiveram forte desvalorização desde a entrada do BNDES.

O valor de mercado da Oi, por exemplo, que alcançou R$ 13 bilhões na época da compra da BrT, chegou a cair para R$ 7 bilhões.

O BNDES e diversos fundos de pensão de estatais são acionistas da Oi.
08/10/2013


A aliança de Marina e Campos é tão virtuosa ou tão viciosa quanto qualquer outra! Não me venham com histórias!


 
Por Reinaldo Azevedo
É claro que eu gostei de ver a estratégia de Luiz Inácio Lula da Silva dar com os burros n’água.

Não acho que o TSE disse “não” ao partido de Marina Silva em razão de alguma conspiração petista — disse “não” porque o pleito da Rede era, a meu ver, sem trocadilho, insustentável. Mas é certo que o ex-presidente jogou tudo para ter um segundo turno no primeiro.

Não terá.

Alegro-me.

Mas vamos com calma aí!

Leio aqui, ali e acolá que a aliança da “redista” Marina Silva com o peessebista (nego-me a chamar de “socialista” por respeito ao conteúdo das palavras) Eduardo Campos seria dotada de virtudes superiores e alcance, sei lá, verdadeiramente poético, que faltaria a todas as outras uniões que se possam fazer e se fazem na República.

Aí não dá!

Aí meu senso de realidade me obriga a reagir. Se eu fosse outro, não escreveria este texto. Se pensasse com o fígado, como querem os que me detestam — e, por me detestarem, não me entendem, hehe… —, deixaria a coisa pra lá; bastar-me-ia, então, ver a estratégia petista naufragar e aplaudir.

Mas sou quem sou. Meu único compromisso nesta página é escrever o que penso. E penso que a aliança de Marina com Campos é tão natural e tão artificial quanto qualquer outra da República.

Por natural, dado o quadro de fragmentação partidária no Brasil, deve-se considerar que partidos precisam mesmo se constituir em frentes. Nem o PT, com toda a sua força e com o escandaloso aparelhamento do estado e dos movimentos sociais, consegue governar sozinho.

Por artificial, é claro que que se trata de um arranjo ditado pela oportunidade e pelas circunstâncias.

Quando se votou o Código Florestal, por exemplo, o PSB tinha 27 deputados. Só três se opuseram. Os outros 24 votaram a favor — no que fizeram, diga-se, muito bem. Na Rede, ter endossado o texto era considerado fator de exclusão.

Vale dizer: quem apoiou o código aprovado estava proibido de pertencer à Igreja dos Santos de Marina de Últimos Dias. Cheguei a perguntar à época se um mea-culpa, um arrependimento, uma penitência, poderia livrar o vivente.

Disseram-me que não, o que me levou a concluir que Deus pode perdoar, mas Marina não! Eu estou enganado, ou o “socialista” Roberto Amaral, ex-ministro da Ciência e Tecnologia, vice-presidente do PSB, já classificou o partido Rede de “preconceituoso, fundamentalista e religioso”?

No ministério, ele defendeu que o Brasil dominasse todo o ciclo tecnológico de produção da bomba atômica. Até acho discutível se isso é ou não aceitável. Para a turma da Rede, com certeza, não é.

Então fiquemos assim.

Como não fez direito a lição de casa, a Rede não conseguiu se viabilizar. Marina até tentou ficar fora da disputa, mas seus aliados, em especial os do mundo empresarial, que apostaram suas fichas na Rede, reagiram muito mal. Também os representantes egressos do que ela chama de “velha política” não gostaram. Aí ela teve de entrar no jogo.

Escolheu o PSB, decisão que é, sim, de seu interesse, mas também do interesse de Eduardo Campos. Ele tenta ganhar densidade com a nova aliada, embora continue encalacrado com a questão do tempo de TV. Ela ganha uma estrutura para influir na disputa de 2014. E ambos ficam com mais espaço de manobra. Por quê? Se Campos perceber que não se viabiliza de jeito nenhum, sempre pode, num gesto que será aplaudido, abrir mão em favor de Marina. A história de que já está definido que ele será o candidato, e ela, vice é conversa para boi dormir. Os institutos de pesquisa farão o óbvio e o certo: testar o nome dele e o dela nas simulações. Com Marina, Campos pode, se quiser, desistir sem desonra. Com Campos, Marina pode se tornar candidata com uma estrutura e uma grana de campanha que não teria pela Rede. Os dois, pois, têm agora opções que antes não tinham.

Ainda que muitos sejam tentados a ver em Marina não mais do que um ser etéreo, que se alimenta de luz e aspargos, a verdade é que ela é uma política. Sua aliança com Campos não confere nem mais nem menos grandeza à atividade. É, a exemplo de qualquer outra, ditada por oportunidades e interesses. E não custa notar: a Rede já é um saco de gatos no que concerne à ideologia. Há de tudo lá: de neoliberais a socialistas. O que os une é o papo-clorofila, este, sim, considerado inegociável. E é justamente nesse ponto que a coisa pode desandar na conversa com o PSB. Nos estados, digam aí, quem é que vai querer celebrar uma união com o PSB, dando eventualmente um palanque a Campos, mas tendo a turma de Marina a lhe picar o calcanhar? Vale a pena? Vamos ver. O acordo com o governador de Pernambuco foi um lance do lado pragmático de Marina Silva e sua turma. O problema é o lado sonhático.

As dificuldades começam agora. E só estão aí porque a aliança de Marina e Campos segue o padrão das outras. A rigor, caso se leve a sério sua conversa sobre a “velha política”, é menos programática do que qualquer outra.

08/10/2013

Charge




Dilma os Passaros Terror Hitchkoch PSB Pomba Psdb Tucano

Amarildo


Marina e Eduardo Campos logo saberão do que o PT é capaz para continuar no poder







Por Augusto Nunes

Seja quem for o candidato do PSB, a aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva tornou inevitável o segundo turno na eleição presidencial de 2014.

Assim que se recuperar da pancada, Lula, que começou a colecionar bravatas ainda nos trabalhos de parto, recomeçará a recitar que Dilma Rousseff ganhará o jogo no primeiro tempo ─ e o marqueteiro João Santana, que ganha boladas de bom tamanho para prever o que o freguês deseja, saberá como explicar por que os concorrentes não voltarão do vestiário.

Mas nem os devotos de olho rútilo e lábio trêmulo conseguirão acreditar no mestre que tudo sabe e tudo vê (menos escândalos que protagoniza e roubalheiras na sala ao lado).

Eduardo Campos e Marina Silva vão tirar votos tanto do PT quanto do PSDB, mas não é difícil descobrir quem perde mais (muito mais): basta conferir a reação dos sacerdotes da seita lulopetista, dos aliados loucos por ministérios, dos colunistas estatizados, dos repórteres federais e dos blogueiros de aluguel.
Alguns enfileiram prodigiosas piruetas mentais para provar que um mais um é igual a zero.

Outros garantem que todos os eleitores da ex-senadora do Acre são contrários ao casamento eleitoral com o governador pernambucano, cujos seguidores rejeitam a noiva.

Os mais pragmáticos já tratam de colocar em prática o manual da cafajestagem.

“Em 2013 o bicho vai pegar”, preveniu Gilberto Carvalho no fim do ano passado.

“Nós podemos fazer o diabo na hora da eleição”,
confirmou Dilma Rousseff.

Previsivelmente, tão logo se consumou a aliança inesperada, começou a tomar forma na internet a onda de ataques desabridos e boatos insultuosos que costuma anunciar o tsunami de canalhices concebidas para ganhar-se a eleição.

Utilizada desde sempre contra candidatos tucanos apoiados pelo PFL que virou DEM e pelo PPS, a metodologia do vale-tudo aperfeiçoada nas catacumbas do PT desta vez será estendida ao PSB.

Em 2010, Marina foi tratada pelos ex-companheiros com a brandura reservada a ovelhas desgarradas que, sem chances reais de vitória, poderão reaproximar-se do rebanho num segundo turno.

As coisas mudaram, já aprendeu a ex-senadora impedida de formar seu próprio partido.

Ela e Eduardo Campos logo saberão do que o PT é capaz para manter-se no poder. O arsenal de armas sórdidas, imenso e variado, é suficiente para mais de um inimigo.
A um ano da eleição presidencial, é difícil prever com exatidão o que acontecerá. O que está claro é que o que acabou de acontecer foi muito ruim para o PT ─ e, por consequência, muito animador para quem desconfia que a reeleição de Dilma Rousseff é o caminho mais curto para despenhadeiro.

“Foi um direto no fígado”, Lula deixou escapar ao saber da união celebrada por dois de seus antigos ministros.

Quem conhece boxe sabe que esse tipo de golpe, aplicado com precisão, frequentemente precede o nocaute.

 07/10/2013

Enquanto Dilma exaltava as “manifestações” no Programa do Ratinho, o pau comia no Rio e em São Paulo. Estava escrito na estrela



 Por Reinaldo Azevedo

Tomei uma decisão editorial. Sempre que eu escrever sobre a barbárie promovida por fascistas mascarados, a primeira imagem do meu texto será essa. Sim, é Caetano Veloso. Ele é favorável à censura prévia no caso das biografias, mas contra a repressão aos black blocs. Aos fatos da hora.
Enquanto o pau comia nas ruas em São Paulo e no Rio, Dilma Rousseff concedia uma entrevista a Ratinho. Não há nada de errado com o apresentador. Faz o trabalho dele. A questão é saber se ela faz o dela.
Enquanto a presidente dizia no SBT que “os protestos fazem parte do processo da democracia e da evolução social do Brasil”, os mascarados do Black Bloc faziam isto em São Paulo.

Black blocs destroem e viram carro da PM em SP (Foto: Eduardo Anizelli-Folhapress)

Enquanto a presidente dizia a Ratinho que os protestos “têm um sentido positivo”, os black blocs faziam isto no Rio.

Black blocs incendeiam ônibus no Rio (Foto Marcelo Sayão-EFE)

Enquanto a presidente fazia poesia e garantia que os manifestantes querem “mais garantias de direitos” e “mais democracia”, na capital fluminense, assistia-se a esta beleza:

Agência bancária é depredada no Rio por black blocs (foto: Christophe Simon-AFP)

Bomba incendiária é lançada contra a Assembleia Legislativa do Rio (Foto: Pablo Jacob – Agência O Globo)

Enquanto a presidente interpretava os tais protestos como coisa de gente que quer sempre avançar, os “avançados” faziam coisas como esta:

No Rio, Black blocs acendem coquetel molotov para lançar contra PMs (Foto: Christophe Simon-AFP)

Em SP, os black blocs lançam com estilingue artefato incendiário contra policiais (foto: Fábio Braga-Folhapress)


Então vamos ver
O que você sente, leitor amigo, telespectador amigo, quando repórteres e apresentadores de TV recorrem à expressão “manifestação pacífica”? Não está cansado dessa ladainha, dessa mentira escancarada, dessa pilantragem jornalística? Estão querendo enganar a quem? Nesta segunda, a violência estava inscrita na própria convocação dos atos, desde o começo. Questionei aqui: que sentido fazia marcar um protesto em São Paulo em apoio aos grevistas do Rio?
Era o PSOL, que invadiu a Reitoria da USP, se solidarizando com o PSOL que comanda a absurda greve dos professores no Rio. Tanto lá como cá, contava-se com a colaboração dos black blocs, não é? No Rio, como num desfile de escola de samba, criou-se uma comissão de frente, com jovens e uma criança, batizada de “Tropa de Prof”. Parte da imprensa carioca delirou, achou lindo, achou demais, fez poesia, babou de satisfação. Às vezes, tenho a impressão de que há mais black blocs nas redações do que nas ruas. Vejam a foto.

Comissão da Frente da Escola Unidos do Reacionarismo, que fez delirar parte da imprensa carioca (Foto: Christophe Simon-AFP)

Logo atrás, vinha uma outra ala, a dos… black blocs propriamente. E, como é de seu feitio, mandavam a polícia se f…r.

Black blocs estavam na manifestação dos professores desde o começo: eram uma ala do desfile (Foto: Cristophe Simon-AFP)

Respondam, senhores apresentadores de TV. Respondam, senhores jornalistas de TV. Respondam, senhores editores de TV. Respondam, senhores diretores de jornalismo de TV. Quem, planejando uma “manifestação pacífica”, aceita a colaboração dos black blocs já na própria organização do suposto ato de protesto?
O chato é que a condescendência com a violência e com a desordem não muda o espírito dos que odeiam a imprensa livre e o jornalismo, como se vê na foto abaixo.

Black blocs e professores fundidos num grupo só: hostilidade injustificada à TV Globo

Embora a Globo faça uma cobertura dos eventos de rua que, para ser ameno, é “amigável” com os protestos, os trogloditas continuam a satanizá-la. Se, amanhã, num ato de delírio extremo, a emissora passasse a tratar os black blocs como heróis, eles a acusariam de tentativa de cooptação. Não existem nem amenidade nem adesão o bastante para a fome do gigante.

País estúpido Leiam este trecho em azul. A grande mentira é esta: as manifestações nunca foram pacíficas, desde o início. Depois que se decretou que a “culpa é da polícia” e que a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, debaixo de uma artilharia como nunca se viu, foi obrigada a declarar qualquer área da capital território livre para as manifestações — “sem repressão” —, estava, para lembrar imagem que usei aqui, aberta a Caixa de Pandora. Como no mito, só a esperança ficou grudada ao fundo. Os males do mundo escaparam todos.
Mais: teve início outra tese ridícula — a da “maioria pacífica”, uma espécie, como direi?, tautologia conceitual. Quando a maioria não é pacífica, o que se tem é revolução. Aliás, também as revoluções são feitas por minorias. A questão é saber se elas são ou não usadas como instrumento de luta. Ou foram os “pacíficos” que empurraram os governadores e prefeitos contra a parede? (…) O governo federal está recuperando a ofensiva no terreno político, e não há muito o que a oposição possa fazer. Com as pessoas comuns um pouco assustadas e de volta a seus lares, sobraram nas ruas a turma da porradaria e os radicais de esquerda, que já se mobilizam para dirigir de modo mais claro os ataques contra a imprensa — a mesma que incensou o movimento. E desqualifico, mais uma vez, uma mentira estúpida: o jornalismo não entrou nessa “para derrubar Dilma”, não! Entrou porque não resiste a qualquer coisa que tenha cheiro de povo. (…) Vá lá na Suécia e diga que tudo vale a pena se a disposição não é pequena para ver o que acontece. Lembram-se do furacão Katrina, nos EUA? As vítimas foram mandadas para escolas e alojamentos. Todos estavam unidos na tragédia, não é? Os idealistas esperavam solidariedade, a ajuda mútua etc. As Forças Armadas americanas estavam lá. Mesmo assim, começaram a se multiplicar os casos de estupro, e as autoridades alertaram: “Protejam-se; não temos como evitar esses atos”.
“Ah, então o povo, deixado por sua própria conta…” Sim, é isso mesmo! É por isso que existem governos e pactos sociais. O estado não precisa ser o Leviatã, não! Mas precisa ter legitimadas as suas forças de contenção. Ou é a guerra de todos contra todos. Uma coisa é criticar os maus policiais; outra, como se fez, é deslegitimar as polícias. É visível que as PMs do Brasil inteiro estão com medo de agir. Os policiais temem parar atrás das grades por cumprir sua função.
Se a amiga da presidente Dilma, a tal Rosa Maria, da Comissão da Verdade, elege as PMs como inimigas do povo e dos direitos humanos, então está declarado o vale-tudo. Vale-tudo que setores da imprensa pediram e aplaudiram. E agora? Agora são as próximas vítimas.

Retomo Este é trecho de um post que escrevi aqui no dia 27 de junho de 2013, há mais de três meses. Quem se orienta segundo princípios inegociáveis não precisa esperar o desenrolar os fatos para dizer “não” ao que merece “não”. E eu digo “não” à violência que é dirigida contra as balizas do regime democrático.
VOCÊS SABEM QUE JAMAIS ME DEIXEI LEVAR PELO CANTO DA SEREIA, NÃO É? APANHEI MUITO POR ISSO, INCLUSIVE DE ALGUNS LEITORES HABITUAIS DO BLOG.
“É necessário ficar lembrando o que você escreveu?” É, sim! Não é sem um custo razoável que se afirmam certas coisas, na contramão, na contracorrente, quando há quase uma unanimidade em sentido contrário. É preciso ter memória.

Volto a Dilma Na entrevista ao Ratinho, Dilma afirmou que, sem as manifestações, talvez o governo não tivesse conseguido aprovar os 75% dos royalties do pré-sal para a educação e 25% para a saúde e criar o programa “Mais Médicos”. Num caso, conta-se com o ovo na barriga da galinha. No outro, como é sabido, o programa já estava em curso e nada tinha a ver com a saúde dos brasucas, e sim com os cofres de Cuba. Isso é o de menos. O que importa é que o governo se desvinculou dos protestos, como antevi que aconteceria ainda em junho, e largou a barbárie para ser resolvida pelas Polícias Militares, que, prudentemente, cansaram de ser vítimas das milícias politicamente corretas das redações.

Se setores da imprensa, a exemplo de Caetano Veloso, acham que os black blocs “fazem parte”, por que seriam os homens de farda a dizer que não?

Eles, convenham, pertencem àquele grupo que detém o monopólio do uso legítimo da força. Se os “companheiros” da imprensa acham que esse monopólio foi transferido para os outros fardados, os mascarados, não há muito o que os policiais, que são apenas o povo de farda, possam fazer. Os respectivos comandos das PMs deveriam mandar seus homens saírem às ruas distribuindo rosas & poesias.

E agora Lula, pela primeira vez você foi surpreendido





Se seus dois ex-ministros, Eduardo Campos e Marina Silva, aprenderam na escola do PT fazer oposição, você vai ver o que é adrenalina durante a campanha.

Sinto muito, Lula, desta vez você dormiu de toca ou não tem dormido?

Ou quem sabe você agora resolve ser o candidato?

Mas nesse caso, está disposto a enfrentar sua herança maldita?

Para piorar, nunca antes nesse país teve um governo tão ruim quando o do poste que você pôs lá.

Suceder a tamanha incompetência não vai ser fácil.

E como diz a letra daquela música: "nada será como antes, amanhã".

Você já se comparou a Jesus Cristo, mas, no meu modesto entender, você está mais para Mussolini dos trópicos.

E ele não acabou bem.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Não toquem em Voltaire!


Olhem bem este rapaz.



Por Reinaldo Azevedo

Ele está com uma barra de ferro na mão e depreda uma agência bancária em São Paulo. Veste o uniforme de sempre. Alguns sinais indicam que é bastante jovem, talvez um “dimenor”.

Muito bem! Em 1968, Jean-Paul Sartre tinha 63 anos, mas já estava mais gagá do que Caetano Veloso, com 71 — entendam: não é uma questão de idade cronológica, mas de decrepitude intelectual. Sartre apoiava os atos violentos da juventude maoísta e distribuía seus jornalecos.

Ainda na Presidência da República, perguntaram a De Gaulle como agir com o dito-cujo. O presidente deu ordens para que não se tocasse no filósofo com a frase: “Não se pode prender Voltaire”.

Esse rapaz aí acima é o nosso Sartre, é o nosso Voltaire. E este, aí abaixo, é o nosso adolescente black bloc.

07/10/2013

Cazaquistão à parte, o inferno são os outros




O Corinthians e o governo brasileiro puderam, enfim, comemorar pelo menos uma vitória na primeira semana de outubro.

O Itamaraty conseguiu a adesão da Chancelaria cazaque à campanha pela regulamentação da espionagem.


POR ROLF KUNTZ
Estadão

Em visita a Brasília, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Cazaquistão, Erlan Idrissov, foi persuadido a assinar uma declaração contra “as práticas de interceptação ilegal de comunicações e dados de cidadãos, empresas e membros de governos por governos e empresas estrangeiras”.

Ele se dispôs também a cooperar em foros multilaterais para o “desenvolvimento de governança internacional apropriada para a segurança cibernética”. Esse compromisso aparece no 18.º dos 21 itens da declaração conjunta divulgada na quarta-feira, várias horas antes dos 2 a 0 do Timão contra o Bahia.

Na maior parte da semana, no entanto, a presidente Dilma Rousseff e sua equipe tiveram maior dificuldade nos esforços para conquistar confiança em seus planos e realizações.

Excetuado o Cazaquistão, é preciso dar razão a Sartre. O inferno são os outros, a começar, nos últimos dias, pela agência Moody’s de classificação de riscos.

Mas, pensando bem, nem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com seus péssimos indicadores de desempenho econômico, tem sido muito cooperativo.

Na Argentina, os Kirchners tiveram problema semelhante com o Indec, mas cuidaram do assunto à sua maneira, recauchutando o sistema público de estatísticas e proibindo a divulgação de números menos favoráveis por instituições privadas.

No Brasil, é bem mais simples a vida dos analistas econômicos dos mercados, da imprensa e das agências de classificação de riscos. Os números oficiais são em geral confiáveis e até as lambanças, como a maquiagem das contas públicas, são identificáveis sem muita dor de cabeça.

No caso da inflação, também é fácil apontar as tentativas de administrar os índices ─ práticas sem mistério, como controlar os preços dos combustíveis e reduzir politicamente as tarifas de eletricidade e de transporte público. No fim, os truques e problemas acabam convergindo.

O Tesouro foi autorizado a emitir mais títulos da dívida, no valor de R$ 2,3 bilhões, para cobrir os custos do voluntarismo na área da energia elétrica. É mais um acréscimo a um endividamento de escassa utilidade para o fortalecimento e a expansão da economia, como a maior parte do dinheiro transferido pelo Tesouro aos bancos federais desde o começo da crise ─ estimado em torno de R$ 400 bilhões.

Bem conhecidos, todos esses dados afetam a credibilidade do governo e prejudicam as apostas na economia nacional. Essas e outras informações foram mencionadas, nesta semana, quando a Moody’s anunciou a mudança da perspectiva da dívida soberana de positiva para estável ─ na prática, uma espécie de advertência, embora o vice-presidente da agência, Mauro Leos, tivesse rejeitado essa interpretação. Sem melhora significativa, no entanto, será difícil evitar um rebaixamento, admitiu o economista.

As justificativas divulgadas pela Moody’s são um bom resumo das avaliações correntes fora do governo, sustentadas por muitos analistas e classificadas pela presidente Dilma Rousseff na categoria do “pessimismo adversativo”.

A economia cresce pouco, o governo usa a contabilidade criativa, o investimento é insuficiente, as contas externas pioram e a dívida bruta é muito maior que a encontrada em outras economias emergentes: cerca de 60% do produto interno bruto (PIB) no Brasil, enquanto permanece em torno de 35% em países de desenvolvimento semelhante.

No mesmo dia, em Washington, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, apresentou um panorama da transição da crise para o pós-crise em todos os grandes grupos de economias.

Sem mencionar muitos detalhes, chamou a atenção para as pressões inflacionárias no Brasil, na Indonésia e na Rússia e mencionou o pouco espaço para estímulos fiscais em muitos emergentes. Além disso, apontou o Brasil e a Índia como países necessitados de mais investimentos em infraestrutura e maior abertura comercial.

Não adiantaria, diante do noticiário da semana, denunciar essa fala como mais uma prova da perversidade do FMI. Os jornais continuam mostrando as dificuldades e os tropeços da política de infraestrutura, o IBGE informou crescimento nulo da produção industrial em agosto, depois de uma queda de 2,4% em julho, e o Banco Central (BC) cortou de US$ 7 bilhões para US$ 2 bilhões o superávit comercial projetado para o ano.

Além disso, as novas projeções indicaram crescimento anual do PIB de apenas 2,5% até o segundo trimestre de 2014 e inflação de 5,5% até o terceiro de 2015. Mas, segundo disse em Londres o presidente do BC, Alexandre Tombini, a inflação está controlada e converge para a meta, 4,5%. Há algum prazo para essa convergência?

Não se pode cobrar do PT, dizia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a correção de problemas acumulados desde o Descobrimento. Em outras ocasiões, sua referência foi a História da República. Gente do governo tem citado, recentemente, a escassez de investimentos em infraestrutura nos últimos 40 anos. Pessoas mais moderadas mencionam três décadas.

Mas o partido está no poder há 11 anos e seu balanço de realizações é abaixo de pífio, quando se trata de reformas complicadas (a tributária, por exemplo), de qualidade da gestão e de medidas para tornar a economia mais eficiente e com maior potencial de crescimento.
Fidelíssima a seu criador, a presidente Dilma Rousseff manteve as piores práticas do período Lula, incluídos o loteamento e o aparelhamento da administração federal e as intervenções voluntaristas.

O rebaixamento da classificação da dívida de longo prazo da Petrobrás, outra decisão da Moody’s, é uma das consequências.

Ninguém, na equipe do Planalto, havia notado esse risco?

07/10/2013

Charge




 

Amarildo

Aliança de Marina e Campos leva mudanças em estratégias dos presidenciáveis


Enquanto a ex-senadora se prepara para estrear no programa de TV do PSB na quinta-feira, o PT de Dilma Rousseff se reúne nesta segunda-feira (7/10) para estudar medidas de afago aos aliados

  Correio Braziliense
A inesperada aliança entre a ex-senadora Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), obrigará o PT e o governo a cederem mais espaços para as legendas que continuam na base. Vendo as candidaturas de oposição se fortalecerem, partidos que sempre reclamaram de pouca atenção da presidente Dilma Rousseff e seus correligionários agora enxergam uma via de centro esquerda alternativa na qual podem se abrigar. Com isso, PT precisará preparar estratégia para não perder aliados e, com isso, tempo de televisão durante a campanha e a maioria no Congresso Nacional.
Dilma: depois da surpresa da dobradinha Eduardo-Marina, presidente agora se preocupa em não perder tempo de TV

Dentro do Partido dos Trabalhadores ainda não está claro qual será o impacto da aliança pessebista na base. Como pegou todos de surpresa, nem a legenda nem o governo traçaram esse cenário para os próximos meses. Apesar de, em um primeiro momento, haver uma avaliação de que quem mais perde é o tucano Aécio Neves (MG), os petistas se reúnem hoje pela manhã para uma análise mais profunda das consequências da união.

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Um dia após a oficialização do acordo, a tendência petista tem sido minimizar o estrago. O líder do governo na Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (SP), por exemplo, ainda não vê ameaças em votações importantes. “Nas matérias nas quais houver identidade de propósitos e de política ideológica, não altera em nada”, acredita. “O que muda é que o partido que não está na base se sente mais livre para tomar decisões. Mas, na prática, o PSB já vinha se afastando. Não causou nenhum terremoto”, avalia.

Ainda assim, legendas aliadas estão conscientes de que o poder de barganha pode ser maior. O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), comemorou ontem o acordo porque viu afastada de vez a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trazer Eduardo Campos para ser vice de Dilma. E ele avalia que a coligação pessebista não terá força para derrubar o vice-presidente Michel Temer e a presidente. "Marina deu um tiro no pé. Não sabe se conseguirá levar os votos que tem e ainda não agrega tempo de televisão a Eduardo. Quando a campanha começar, Aécio terá mais espaço", analisa.

O Palácio do Planalto já se prepara para a ofensiva peemedebista para ocupar o Ministério da Integração Nacional, desocupado por Fernando Bezerra (PSB-PE). O partido esperava herdar a cadeira, mas Dilma optou por nomear o secretário de Infraestrutura Hídrica, Francisco Teixeira, aliado dos irmãos Cid e Ciro Gomes. O PMDB deve a partir de agora retomar as pressões para ocupá-lo. "O PMDB sempre quer mais espaço. Isso é patológico", diz um auxiliar do governo.
Afinidade

Outra ameaça está nos palanques estaduais. Marina Silva já se comprometeu em fazer campanha para os parlamentares que a ajudaram na criação da Rede, e isso pode pesar na balança. No caso do PDT, por exemplo, legenda que tem até ministério mas não perde a oportunidade de lembrar que só decidirá quem apoiará em 2014, vê em dois estados a possibilidade de ter apoio de Marina. No Distrito Federal, o deputado Reguffe pode sair ao governo ou ao Senado e já tem promessa de apoio. No Rio Grande do Sul, o deputado Vieira da Cunha pretende lançar-se ao governo, como oposição a Tarso Genro (PT) e com apoio da ex-senadora.

Enquanto isso, o PSB se estrutura para tentar arrancar da base legendas com afinidade ideológica. Ainda não houve tempo para a tarefa, mas eles esperam que, depois da surpresa, outros partidos se animem a deixar o governo de Dilma também.

 07/10/2013