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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Mercado comemora impeachment, mas alegria deve durar pouco



Até que algo seja definido, situação da economia vai piorar antes de melhorar
 

Processo de impeachment dificulta aprovação de medidas fiscais, o que deve ponderar alegria do mercado
(Pixabay)


Por
Thais Folego e Weruska Goeking


SÃO PAULO - O pedido de abertura de impeachment contra Dilma Rousseff abre a possibilidade de alternância de poder que acabou não ocorrendo nas eleições presidenciais de 2014. E por isso o mercado está comemorando: ações sobem e dólar desce. Mas como o processo pode ser longo e doloroso, essa alegria deve durar pouco.


Isso porque o futuro da política ainda está cercado de dúvidas e os economistas consultados por O Financista são claros: até que algo seja definido, a situação da economia vai piorar antes de melhorar.

"Isso não é o início de um rally da bolsa que vai ser duradouro. É uma reprecificação para esse cenário em que há uma probabilidade maior que a anterior de mudança da presidente, que tem sua governabilidade afetada pela crise política e econômica", avalia o chefe de investimentos da gestora de recursos AZ Quest Investimentos, Alexandre Silvério.

Durante o processo de impeachment a situação econômica vai piorar, porque isso dificulta a aprovação de medidas fiscais, afirma Juan Jensen, economista e sócio da 4E Consultoria. “Provavelmente teremos rebaixamento de rating.”

A expectativa de perda do grau de investimento pela Moody’s e pela Fitch, seguindo os passos da Standard & Poor’s (S&P), já estava nas contas do mercado, mas o processo de impeachment pode antecipar essas decisões.

“Não me surpreenderia se antes mesmo do Natal o Brasil recebesse este ‘presente’ de fim de ano das agências, presente bem adequado num ano que não aconteceu”, afirma André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

Independentemente do resultado do processo de impedimento, a agenda fiscal vai ficar parada no próximo mês com foco no embate político em torno da questão, avalia o JP Morgan em relatório, que espera que mais uma agência rebaixe o Brasil para grau especulativo (“junk”), como a S&P já classifica o Brasil.

Mercado feliz

O impasse político que está em vigor há meses tem sido altamente prejudicial para os números fiscais e econômicos, que parecem piorar a cada dia, diz o banco Nomura. E o impeachment poderia acabar com esse impasse, por isso a reação ao lançamento do processo de impeachment ter sido positiva.

O fato de o vice-presidente Michel Temer, que poderia ascender ao poder, ser geralmente visto como uma alternativa amigável ao mercado também sustenta o otimismo.

Algumas razões, no entanto, indicam que é improvável que este sentimento positivo dure muito no mercado. Não só porque um impeachment de fato ainda está longe de acontecer, mas porque pode ser uma viagem atribulada ao longo dos próximos meses à medida que o processo caminhe.

“Eventos de cauda [riscos extremos] incluem o governo se deslocar para a esquerda para o apoio popular mais perto do Partido dos Trabalhadores”, afirma o Nomura. O banco avalia que a fragilidade fiscal não só continuará como pode aumentar durante o processo, com potenciais implicações negativas para o rating do Brasil.

“O mercado ainda não está fazendo conta e reage com o fígado às notícias de ontem. A saída de Dilma é envolta ainda de muita incerteza”, afirma o economista-chefe da Gradual Investimentos.

Dilma sai, Dilma fica


Ao fim do processo, há duas possibilidades: Dilma fica ou Dilma sai. Em qualquer uma delas, a chegada a uma solução deve trazer maior tranquilidade aos mercados financeiros.

“A probabilidade maior continua sendo dela não sofrer o impeachment. Independentemente dela sofrer ou não, o risco político após o processo diminui e abre espaço para um quadro econômico um pouco melhor mais a frente, entre 2017 e 2018”, avalia Jensen.

No fim das contas, se havia alguma chance de que o ano de 2016 não fosse totalmente perdido para a economia, o processo de impeachment deu a certeza de que é isso que vai acontecer. Por outro lado, a manutenção das pressões sobre a presidente sem uma definição sobre o pedido de impeachment poderia ser ainda mais prejudicial. O mercado não gosta de incertezas.

 03/12/2015


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