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sábado, 30 de janeiro de 2016

Prédio de tríplex reformado pela OAS para Lula teve uso irregular de FGTS, diz auditoria

Operação Lava Jato investiga apartamento – e ÉPOCA descobre que empreiteira obteve indevidamente R$ 300 milhões, dos quais R$ 14 milhões foram gastos para encerrar obras do condomínio Solaris


DANIEL HAIDAR COM FLÁVIA TAVARES

ÉPOCA

Gerente da empresa panamenha Mossack Fonseca no Brasil, Renata Pereira foi acordada pela Polícia Federal na última quarta-feira na Operação Triplo X, o nome da 22ª fase da Operação Lava Jato. Havia um mandado de prisão temporária contra ela. De casa, na Zona Sul de São Paulo, Renata foi levada para a sede da empresa, na Avenida Paulista, onde foi obrigada a destravar quatro computadores e liberar o acesso dos policiais a documentos de uma das mais famosas criadoras de offshores do mundo. Arrumar os papéis para a criação de empresas em paraísos fiscais, o trabalho da Mossack, facilita a vida de terroristas, políticos corruptos e empresários interessados em ocultar bens e lavar dinheiro. No escritório, os policiais coletaram milhares de dados sobre muitos desses filhotes, alguns usados para corrupção, paridos pela Mossack nos últimos anos.

O prédio e seus condôminos: o ex-presidente Lula, que desistiu do apartamento, o ex-tesoureiro João Vaccari Neto e o segurança petista Freud Godoy (Foto: Paulo Whitaker/Reuters, Fábio Motta/Estadão Conteúdo, Rodrigo Félix Leal/Futura Press, JF Diorio/Estadão Conteúdo)

Entretanto, a 90 quilômetros dali, estava o alvo mais poderoso da Triplo X. A força-tarefa da Lava Jato investiga se os apartamentos do Condomínio Solaris, na Praia das Astúrias, em Guarujá, foram utilizados pela OAS como moeda para pagamento de propina no esquema de corrupção da Petrobras. O conjunto de 112 unidades é o prédio da companheirada. Abriga um tríplex destinado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e apartamentos do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, hoje preso em São José dos Pinhais por coletar propina de contratos da Petrobras, e de Freud Godoy, um ex-segurança de Lula que, entre outras coisas, teve uma empresa que recebeu dinheiro de Marcos Valério, operador do mensalão. No despacho que autorizou a operação, o juiz Sergio Moro disse que a OAS “teria utilizado o empreendimento imobiliário em Guarujá para repasse disfarçado de propina a agentes envolvidos no esquema criminoso da Petrobras”. Até a semana passada, Vaccari era um desses agentes. Lula, ainda não.
A Lava Jato chega, assim, a um ponto fundamental. É o mais próximo que Lula já esteve de ser investigado como beneficiado por uma empresa que desviou recursos da Petrobras. Na campanha eleitoral de 2006, Lula declarou possuir uma “participação” na Bancoop em um “apartamento em construção em Guarujá”. Declarou que tinha pagado, até aquele momento, R$ 47.700. Lula se tornaria dono de um tríplex de 297 metros quadrados no Solaris. Uma investigação aponta que a OAS bancou uma reforma de cerca de R$ 700 mil no imóvel, com a instalação até de um elevador interno. Duas testemunhas ouvidas pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, que também investiga o caso, afirmam que a ex-primeira-dama Marisa Letícia esteve algumas vezes no imóvel para inspecionar as obras. Em uma dessas ocasiões, ela estava acompanhada de Léo Pinheiro, presidente da OAS – aquele que, no ano passado, passou uma temporada preso em Curitiba pelos malfeitos praticados no petrolão. Duas testemunhas relataram que Lula também esteve no prédio. No ano passado, com o petrolão na rua, ele desistiu do imóvel.

Infográfico explica indícios que ligam Lula a tríplex (Foto: Arte/Época)


Os promotores paulistas suspeitam que Lula tenha ganhado o apartamento da OAS, o que pode configurar crime de lavagem de dinheiro. Ele e dona Marisa foram intimados pelo MP de São Paulo a se explicar, no dia 17 de fevereiro, sobre o tríplex. O apartamento no Solaris é o segundo imóvel associado a Lula que foi bancado pela bondade das empreiteiras com o ex-presidente. Por vezes, Lula usufrui de um sítio em Atibaia, em São Paulo, que está em nome de Fernando Bittar, filho de seu velho amigo Jacó Bittar, e de Jonas Suassuna, sócio de Fábio Luís, um de seus filhos. Nesta semana, o jornal Folha de S.Paulo revelou que outra empreiteira, a Odebrecht, campeã de financiamentos do BNDES no exterior e maior contratadora de Lula como palestrante, bancou uma reforma na propriedade. De acordo com fornecedores, foram gastos R$ 500 mil apenas em material de construção e um engenheiro da Odebrecht supervisionou os trabalhos. Ao jornal, a Odebrecht disse não ter identificado relação da empresa com a obra. Em nota divulgada na semana passada, Lula disse que o sítio, que frequenta, pertence a amigos da família.
A Lava Jato chegou ao Solaris depois que a Força-Tarefa do Ministério Público Federal, em Curitiba, constatou que apartamentos foram repassados pela OAS à família de João Vaccari Neto, o tesoureiro do PT que acertava pagamentos de propina depois que essas mesmas empresas obtinham contratos na Petrobras. Há evidências de que as operações imobiliárias serviram para lavar dinheiro da propina da OAS no petrolão. Vaccari declarara à Receita Federal nos últimos anos que era dono de um apartamento no condomínio. Sua cunhada, Marice Lima, fez o mesmo. Marice declarou ter pagado R$ 150 mil pelo imóvel em 2011 e o vendeu de volta à OAS por R$ 432 mil. A empreiteira, no entanto, vendeu a mesma unidade depois por um preço menor, R$ 337 mil. Quem quiser pode acreditar que Marice protagonizou um lance raro, no qual uma pessoa física se saiu melhor que uma grande empreiteira na venda de um imóvel. Pouco depois, Marice transferiu o dinheiro para a filha de Vaccari, Nayara, que comprou uma casa de R$ 800 mil com o dinheiro. No mesmo período,Vaccari, segundo registros da OAS, buscava dinheiro vivo na sede da empreiteira.


 Documento utilizado por João Vaccari Neto para transferir condomínio Solaris para a OAS (Foto: Geraldo Bubniak/Agb/Estadão Conteúdo)


O Solaris é um empreendimento enrolado, que conta com a participação de Vaccari há anos. Em 2003, sob o efeito da eleição de Lula, a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo, conhecida como Bancoop, lançou o empreendimento Mar Cantábrico, em Guarujá. “São duas torres que totalizam 112 unidades de três dormitórios, sendo uma suíte, com opções dúplex e tríplex”, dizia o jornal da Bancoop. Por anos, o informativo Art&Stilo acompanhou a evolução das obras. Contudo, em dezembro de 2006, começaram a aparecer os primeiros sinais de problemas. A Bancoop quebrava. Uma extensa investigação do Ministério Público de São Paulo aponta que os dirigentes da cooperativa, entre eles João Vaccari, desviaram dinheiro dos cooperados para bancar campanhas do PT, o que levou à derrocada financeira e causou prejuízo a cerca de 3 mil trabalhadores. Vaccari é réu no caso, acusado de crimes como estelionato, associação criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Em 2009, Vaccari, então presidente da Bancoop, assinou a transferência do Mar Cantábrico para a OAS. A OAS mudou o nome do empreendimento para Condomínio Solaris e passou a pedir mais dinheiro – não aos companheiros, mas aos cooperados. Primeiro foram cerca de R$ 30 mil. A alguns, que já tinham pagado até R$ 500 mil, foram pedidos mais R$ 600 mil. A entrega atrasou mais de três anos.
Enquanto cobrava mais e mais dos trabalhadores que tentavam conseguir um apartamento no Solaris, a OAS descolava dinheiro do FGTS para financiar a construção do prédio. Uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) à qual ÉPOCA teve acesso atesta que a OAS Empreendimentos e outras incorporadoras foram beneficiadas de modo irregular com a liberação de dinheiro do FGTS. O Conselho Curador do FGTS, diretoria do governo que toca parte dos investimentos do trabalhador, comprou R$ 300 milhões em debêntures (um tipo de dívida) emitidos pela OAS. A empresa usou parte disso, R$ 14 milhões, para concluir as obras do Solaris. A OAS e outras incorporadoras conseguiram convencer o FGTS a comprar seus títulos graças aos serviços do sindicalista André Luiz de Souza, ex-representante da CUT no Conselho Curador do FGTS. Só a OAS pagou R$ 350 mil a duas empresas de Andrezinho. O investimento compensou: apesar de o Banco Central dizer que a manobra era ilegal, “Andrezinho da CUT” bancou a proposta que levou o FGTS a comprar títulos da incorporadora. Os auditores do CGU afirmam que a atuação de Andrezinho da CUT foi irregular, pois ele ainda participava do Grupo de Apoio Permanente do Conselho, responsável por sugerir diretrizes ao fundo. Andrezinho não quer falar sobre o assunto.
A Operação Triplo X foi precipitada porque a Polícia Federal detectou um movimento para a destruição de provas no caso dos apartamentos do Solaris. Em 22 de janeiro, Carolina Auada conversou ao telefone com seu pai, Ademir Auada, e deixou escapar o seguinte: “Só vou terminar de picar os papéis que a máquina parou”, disse. “Estava esperando ela voltar.” Auada era monitorado pela polícia por seu envolvimento com a empresária Nelci Warken. Na semana anterior, ele fora acionado por Nelci. De acordo com um relatório da Polícia Federal, ela estava “muito assustada” depois de receber uma ligação de ÉPOCA com questionamentos sobre uma briga judicial que teve com a offshore Murray Holdings, dona de um tríplex no Solaris, idêntico ao de Lula. A Murray é uma das offshores criadas pela Mossack, a empresa visitada pelos policiais federais. ÉPOCA queria saber detalhes da disputa judicial na qual Nelci perdera 14 imóveis para a Murray. Nelci desligou o telefone e deu ordens para a turma triturar documentos. Foi essa empreitada destrutiva que a Polícia Federal captou. O medo de Nelci não era fortuito. A Operação Triplo X descobriu que o processo judicial foi uma armação para blindar seu patrimônio da cobrança de dívidas. Nelci era dona da offshore Murray. Ainda é investigada a possibilidade de Nelci ser laranja.
O foco na Mossack é outro passo grande dado pela Lava Jato. Criada em 1977 no Panamá, a Mossack Fonseca tem representações em mais de 40 países. É famosa pela criação e administração de offshores, frequentemente usadas como empresas de fachada. O cumprimento do mandado de busca na sede brasileira da Mossack só se encerrou na quinta-feira – peritos viraram a madrugada para baixar e-mails e documentos armazenados em serviços de arquivos virtuais, pelo servidor central da empresa. A coleta de provas no local foi igualmente proveitosa. Além das centenas de offshores nas mensagens e documentos eletrônicos, os policiais arrecadaram papéis com o nome de clientes, cópias de passaportes, comprovantes de endereço e nomes da offshore criada. Um pacote completo. As apreensões devem motivar algumas centenas de inquéritos e levar a Operação Lava Jato para um gigantesco canal de lavagem de dinheiro. A apreensão poderá gerar filhotes por anos.
A OAS preferiu não se manifestar. A Caixa Econômica Federal, gestora do FGTS, declarou que não houve irregularidade na compra das debêntures. A assessoria de imprensa do Instituto Lula não respondeu aos questionamentos
  29/01/2016

OAS gastou R$ 380 mil com mobília para cozinha e quarto de tríplex que Lula diz não ser dele


Empreiteira equipou apartamento supostamente do ex-presidente com geladeira, micro-ondas, fogão e forno de luxo


Por Andreza Matais e Fábio Fabrini, de Brasília, e Fausto Macedo
Estado de São Paulo


Fachada do condomínio Solaris, no Guarujá. Foto: MOTTA JR./FUTURA PRESS


A construtora OAS pagou até mesmo eletrodomésticos da cozinha de um tríplex do Guarujá, no litoral de São Paulo, que pertenceria ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo investigadores, a empresa adquiriu geladeira, no valor de R$ 10 mil; microondas (R$ 5 mil); tampo de pia de resina americana que tem design moderno (R$ 50 mil), e forno elétrico (R$ 9 mil), do imóvel que está sob investigação da Operação Lato e do Ministério Público de São Paulo por suspeita de ter sido usado como pagamento de propina.


A cozinha e o quarto teriam custado à empreiteira R$ 380 mil.

Oficialmente o imóvel está em nome da OAS, mas a Promotoria vê indícios de que pertence ao ex-presidente e sua mulher, Marisa Letícia. Os advogados de Lula afirmam que o ex-presidente não é dono do tríplex.

O promotor de Justiça Cássio Conserino, do Ministério Público de São Paulo, intimou o casal Lula para prestar depoimento ‘como investigados’ sobre o tríplex no próximo dia 17. O promotor já tomou depoimentos de testemunhas que revelaram a presença de Marisa supervisionando a obra. Todo o apartamento foi reformado pela construtora em obra que teria custado R$ 777 mil, segundo um sócio da Talento Engenharia, contratada pela OAS, empreiteira alvo da Operação Lava Jato sob a acusação de ter repassado propina a políticos e dirigentes da Petrobrás.

Os eletrodomésticos da cozinha do tríplex, segundo investigadores, foram adquiridos pela OAS na loja Kitchens na Avenida Faria Lima, em São Paulo. Um sítio em Atibaia, interior de São Paulo, que também pertenceria ao ex-presidente Lula, recebeu cozinha da mesma marca que custou R$ 180 mil.

A contratação da Kitchens pela OAS para mobiliar o apartamento 164-A foi revelada pelo site O Antagonista. O site também informa que a cozinha do sítio foi bancada pela mesma empreiteira e, nesse caso, paga em dinheiro vivo.

Lula e Marisa.
Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação


A reforma no tríplex foi realizada entre abril e setembro de 2014, quando Lula já havia deixado a presidência. Se comprovado que o petista omitiu o imóvel de sua declaração de bens, o próximo passo é saber a razão. Uma das hipóteses é a necessidade de encobrir suposto pagamento por tráfico de influência, uma vez que Lula teria renda para comprar o imóvel. O ex-presidente tem reiterado que após deixar o governo sua única atividade remunerada é a de palestrante. Ele também nega fazer lobby para empresas.


No total, as cozinhas do tríplex e do sítio custaram R$ 312 mil. Incluindo os armários do tríplex, a conta chega a R$ 560 mil. Segundo uma fonte com acesso aos dados relacionados à compra, a Kitchens vendeu ainda para o apartamento, armários do dormitório, lavanderia e banheiro. Com a entrada da OAS em recuperação judicial, a empresa Kitchens ficou no prejuízo e não recebeu a última parcela de R$ 33 mil referente à cozinha do tríplex. A loja vai tentar receber o valor na Justiça.

Documentos obtidos pelo Estado revelam que a OAS também financiou outros itens do apartamento comprados no mercado de luxo. Uma escada caracol custou R$ 23.817,85. Outra, que dá acesso à cobertura, R$ 19.352.

O porcelanato para as salas de estar, jantar, TV e dormitórios foi estimado em R$ 28.204,65.

O rodapé em porcelanato, R$ 14.764,71. O deck para piscina, R$ 9.290,08. O elevador comprado oferece a possibilidade de ser personalizado, com acabamento à escolha do cliente, e custou R$ 62.500.

O Estado tentou contato com a OAS na sexta-feira por telefone e e-mail, mas não houve resposta.

O ex-presidente Lula tem sustentado que não é dono do tríplex nem do sítio em Atibaia. Seus defensores são enfáticos. “Lula nunca escondeu que sua família comprou, a prestações, uma cota da Bancoop, para ter um apartamento onde hoje é o edifício Solaris. Isso foi declarado ao Fisco e é público desde 2006. Ou seja: pagou dinheiro, não recebeu dinheiro pelo imóvel. Para ter o apartamento, de fato e de direito, seria necessário pagar a diferença entre o valor da cota e o valor do imóvel, com as modificações e acréscimos ao projeto original. A família do ex-presidente não exerceu esse direito. Portanto, Lula não ocultou patrimônio, não recebeu favores, não fez nada ilegal. E continuará lutando em defesa do Brasil, do estado de direito e da democracia.”

30/01/2016

Presidente da Andrade Gutierrez negocia delação e pode entregar segredos de Lulinha


Procuradores da Lava Jato querem que Otávio Azevedo conte detalhes da compra de participação societária da Gamecorp – empresa que tem o filho mais velho de Lula como sócio – pela Telemar, que tem a Andrade Gutierrez entre seus controladores


Por Daniel Pereira, Rodrigo Rangel
e Robson Bonin
Veja.com

É
POR ALÍ! - A Procuradoria da República quer saber por que a Andrade Gutierrez, do empreiteiro preso Otávio Azevedo, repassou 5 milhões de reais à empresa de Fábio Luís, o filho mais velho de Lula
(Sérgio Lima/Folha Imagem)


O ex-presidente Lula tem uma espécie de dupla identidade. No mundo da fantasia, ele é a viva alma mais honesta do Brasil, não está sob investigação das autoridades nem tem responsabilidade sobre o petrolão e o mensalão. O líder messiânico, o novo pai dos pobres, seria a representação da virtude e da nobreza de propósitos. Já no mundo real, onde os fatos se sobrepõem a versões, emerge uma figura bem diferente - e bastante encrencada. A Procuradoria da República no Distrito Federal investiga se Lula fez tráfico de influência em favor da Odebrecht, que contratou a peso de ouro suas palestras enquanto atacava os cofres da Petrobras. O Ministério Público de São Paulo decidiu denunciar Lula por ocultação de patrimônio depois de colher evidências de que a OAS bancou a reforma de um tríplex no Guarujá que pertence à família do ex-presidente. Agora, é a vez de a Lava-J­ato chegar ao petista. Delegados e procuradores têm "alto grau de suspeita" de que a OAS, a fim de quitar propinas, deu imóveis a políticos. O caso do tríplex de Lula será esquadrinhado nessa nova etapa da operação, que foi batizada, devido ao seu DNA incontestável, de Triplo X.


O mito imaginário, quem diria, tornou-se um cliente contumaz da Justiça. Hoje, apurações sobre corrupção grossa deságuam sucessivamente nele. Autoridades já reuniram provas das relações umbilicais de Lula com a Odebrecht, a OAS e a UTC, cujo dono, Ricardo Pessoa, disse ao Ministério Público ter repassado 2,4 milhões de reais, via caixa dois, à campanha à reeleição do ex-pr­esidente. Suspeita de também participar do assalto à Petrobras, a Andrade Gutierrez deve engrossar o cordão de empreiteiras que cerca o petista. Preso desde junho do ano passado, o presidente licenciado da construtora, Otávio Azevedo, negocia um acordo de delação premiada com o Ministério Público. Os procuradores insistem para que ele conte detalhes da operação de compra de participação societária na Gamecorp - empresa que tem Fábio Luís, o filho mais velho de Lula, como sócio - pela antiga Telemar, que tem a Andrade Gutierrez entre seus controladores. Azevedo recusou-se até aqui a explicar a real motivação da operação. Os procuradores, em contrapartida, não aceitam assinar o acordo de colaboração enquanto não receberem a explicação devida.

Para sair do impasse e fugir de uma condenação pesada à prisão, Azevedo decidiu narrar seus segredos aos investigadores. Ele dirá que a antiga Telemar, que foi rebatizada de Oi, comprou cerca de 30% da Gamecorp, por 5 milhões de reais, em 2005, a pedido de Lula. Naquela época, o presidente sabia que o banqueiro Daniel Dantas apresentara uma oferta para se tornar sócio da Gamecorp. Como queria Dantas longe de seu filho e de seu governo, o petista, segundo Azevedo, pediu aos donos da Telemar/Oi, entre eles a Andrade Gutierrez, que apresentassem uma oferta agressiva de compra dos papéis da empresa de seu primogênito. Assim foi feito. Três anos depois dessa transação, o governo Lula mudou a legislação para permitir que a Telemar/Oi se fundisse com a Brasil Telecom, sob o pretexto de criar um gigante brasileiro no setor de telecomunicações. Azevedo confidenciou a advogados e executivos que, após essa segunda transação, viabilizada graças à mudança da legislação feita sob medida por Lula, sócios da Gamecorp e integrantes do governo começaram a exigir mais ajuda financeira da Andrade Gutierrez. Pressionada, a empreiteira, por meio da Oi, passou a contratar periodicamente serviços da própria Gamecorp. Serviços que, conforme Azevedo, não eram necessários.

Assim, estabeleceu-se um canal permanente de repasse de dinheiro para Fábio Luís e seus sócios - entre eles, Fernando Bittar e Jonas Suassuna, proprietários formais do sítio em Atibaia que é usado como refúgio por Lula e que, tal qual o tríplex no Guarujá, teve parte de sua reforma paga pela OAS. A assessoria de imprensa da Oi confirmou que a empresa contrata regularmente serviços da Gamecorp, mas se recusou a fornecer os valores dos contratos. Na campanha presidencial de 2014, integrantes da chapa de Dilma Rousseff chegaram a reclamar dos desembolsos da Andrade Gutierrez, acusando Azevedo de ser um tucano enrustido. Ele desabafou com um amigo: "O PT não pode reclamar depois de tudo o que fiz por eles". Azevedo disse que a pressão partia do ministro Edinho Silva, então tesoureiro da campanha à reeleição, e de Giles Azevedo, ex-­chefe de gabinete e atual assessor especial da presidente. Como se sabe, a parceria com a empreiteira transformou Fábio Luís, outrora um monitor de zoológico, num empresário de sucesso.
29/01/2016

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

MP marca depoimento de Lula e Marisa para depois do Carnaval



É a primeira vez que Lula prestará depoimento como investigado

Ministério Público apura crime de ocultação de patrimônio no caso do tríplex do Guarujá. No dia 17 de fevereiro também serão ouvidos o empreiteiro Léo Pinheiro e o engenheiro Igor Pontes, que acompanhou Lula durante visita ao apartamento


Por Robson Bonin
Veja.com
Lula e a mulher, Marisa: na mira do MP
(Ricardo Stuckert/VEJA)


O ex-presidente Lula e sua mulher, Marisa Letícia, terão pouco mais de duas semanas para elaborar uma versão para as várias perguntas que permanecem sem respostas no caso do tríplex do Guarujá, que a OAS construiu e reformou para a família presidencial. Responsável pela investigação, o promotor Cássio Conserino, do Ministério Público de São Paulo, marcou o interrogatório de Lula e dona Marisa para o dia 17 de fevereiro. No mesmo dia, o promotor irá interrogar o empreiteiro Léo Pinheiro, amigo de Lula e ex-presidente da OAS, e o engenheiro Igor Pontes, que fazia o papel de guia de Lula e Marisa durante as visitas do casal ao tríplex. Como VEJA revelou em sua edição mais recente, o Ministério Público paulista investiga o ex-presidente Lula e dona Marisa pelo crime de lavagem de dinheiro decorrente da ocultação da propriedade do apartamento.

O promotor de justiça Cássio Conserino
(Divulgação/Agência Brasil)


Será a primeira vez que Lula e dona Marisa prestarão depoimentos como investigados. Na semana passada, o Ministério Público concedeu aos advogados do ex-presidente acesso integral aos documentos colhidos na investigação. Lula continua negando ser o proprietário do tríplex, embora o Ministério Público tenha colhido uma série de depoimentos de testemunhas que relatam as visitas do ex-presidente ao apartamento, cuidadosamente reformado pela OAS para o petista. Depois de ouvir o casal petista, o promotor Cássio Conserino deverá finalizar a denúncia.
29/01/2016


Odebrecht fez obra em sítio ligado a Lula, diz fornecedora


Jefferson Coppola/Revista Veja
O sítio Santa Bárbara, em Atibaia, frequentado por Lula e familiares
O sítio em Atibaia, frequentado por Lula e familiares
A ex-dona de uma loja de materiais de construção e um prestador de serviço de Atibaia (SP) afirmaram à Folha que a empreiteira Odebrecht realizou a maior parte das obras de reforma em um sítio frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus familiares.
A reforma teve início em outubro de 2010, quando Lula estava no fim de seu segundo mandato como presidente.
A Odebrecht disse que, após apuração preliminar, não identificou relação da empresa com as obras. Lula não quis comentar.

A propriedade rural, de 173 mil m² (o equivalente a 24 campos de futebol), está dividida em duas partes. Uma delas está registrada em nome de Fernando Bittar, filho de Jacó Bittar, amigo que fundou o PT com Lula. A outra pertence formalmente ao empresário Jonas Suassuna, sócio, assim como Bittar, de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, filho do e­­x-presidente.

A Odebrecht gastou nas obras cerca de R$ 500 mil só em materiais, estima Patrícia Fabiana Melo Nunes, 34, à época proprietária do Depósito Dias, loja que forneceu produtos para a reforma no sítio.

"A gente diluía esse valor total em notas para várias empresas, mas para mim todas elas eram Odebrecht", diz.
Segundo Patrícia, que não quis ser fotografada, os trabalhos no sítio foram coordenados pelo engenheiro da Odebrecht Frederico Barbosa, que cuidou da construção do Itaquerão, estádio do Corinthians, outra obra da empreiteira.

Em entrevista à Folha, o engenheiro confirmou que trabalhou na reforma. Disse, porém, que estava de férias da Odebrecht no período, prestou serviços de graça e não sabia que o ex-presidente tinha ligação com o local.
Patrícia afirmou que abriu na loja um cadastro em nome da Odebrecht, mas, a pedido do engenheiro, emitiu notas de compras feitas pela construtora em nome de outras companhias. Parte dos materiais, admitiu ela, foi comercializada sem registro fiscal.

Como compravam muito no depósito e no sítio não havia sinal de internet, Patrícia disse ter cedido uma mesa no estabelecimento para Igenes Irigaray Neto, arquiteto responsável pela reforma. Durante os cerca de dois meses da obra, além do arquiteto, Barbosa também ia praticamente todos os dias à loja, disse Patrícia.

REFORMA
Em área arborizada, o sítio possuía antes da reforma um lago, uma estrada de acesso e uma casa antiga. Depois, ganhou nova edificação com quatro suítes e um espaço de lazer com churrasqueira.

Segundo Patrícia, os pagamentos da construtora eram feitos semanalmente. "Eu lembro que o Quico [apelido do engenheiro] ligava para um outro senhor, que orientava sobre como era para fazer as notas. Eu não tinha o telefone, o endereço, nada desse outro senhor. Só sabia que na sexta-feira às três horas da tarde ele passava lá para pagar. Os pagamentos giravam em torno de R$ 75 mil a 90 mil por semana, em dinheiro vivo".

"Era uma mala que tinha outros valores também para pagar para os pedreiros, serventes, etc. Ele ia tirando envelopes de papel pardo. Dava para ver que tinha uma organização na mala para ser rápido, pagar o pessoal em ir embora. Ele só fazia isso", diz.

Segundo Patrícia, algumas empresas já clientes da loja faziam pedidos e determinavam o sítio como local de entrega dos materiais. Ela contou que havia grande pressa para terminar a reforma até 15 de janeiro de 2011, e em certo período a loja trabalhou quase exclusivamente para a obra.

O motorista e marceneiro Antônio Carlos Oliveira Santos, 45, disse ter feito serviços de marcenaria no sítio e afirmou que os trabalhos eram chefiados por um engenheiro chamado Frederico.

"Ele [Frederico] me disse que era da Odebrecht, que a Odebrecht estava comandando aquilo. Fui pago por ele em dinheiro vivo. Me chamou a atenção a abundância de dinheiro na obra". "Todo mundo comentava que o sítio seria para o Lula, mas o Frederico nunca me disse isso".

RELAÇÃO COM EMPREITEIRA
Maior empreiteira do Brasil, a Odebrecht se aproximou de Lula quando este chegou ao poder. Durante a gestão do petista, a empreiteira participou de algumas das maiores obras do país, entre elas a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

A Odebrecht é acusada pela Operação Lava Jato de envolvimento em desvios na Petrobras que somam R$ 6 bilhões. O ex-presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, está preso há sete meses.

Lula é alvo de investigação tocada pelo Ministério Público do Distrito Federal para apurar suposto tráfico de influência praticado por ele junto a políticos de outros países, principalmente da África e da América Latina, para conseguir contratos para a Odebrecht. Lula nega ter cometido irregularidades.

Na entrevista à Folha, Patrícia Nunes disse ainda que, além da Odebrecht, "várias empresas" participaram da construção.

Em abril de 2015, a revista "Veja" informou que o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, que é amigo de Lula e um dos alvos da Lava Jato, pretendia, em uma eventual delação premiada, contar que realizou uma reforma no sítio de Atibaia a pedido de Lula. A Polícia Federal passou a investigar se a OAS beneficiou o ex-presidente.

OUTRO LADO
Questionada pela Folha sobre o fato de fornecedores da obra no sítio em Atibaia terem afirmado que a Odebrecht foi a responsável pela compra de material e realização das obras no local usado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua família, a empresa afirmou não ter relação com o terreno.

"Após apuração preliminar, a Construtora Norberto Odebrecht não identificou relação da empresa com a obra", disse por meio de sua assessoria de imprensa.
Procurado, o Instituto Lula disse que não iria se manifestar sobre o conteúdo da reportagem.
O empresário Fernando Bittar, um dos donos da propriedade rural, e que é sócio de Fábio Luís na Gamecorp, não respondeu a nenhuma das tentativas de contato feitas pela Folha.

A reportagem telefonou diversas vezes para a empresa de Bittar e enviou e-mails, mas não obteve resposta até o fechamento dessa edição.

O empresário Jonas Suassuna, sócio de Fábio Luís, filho mais velho de Lula, informou que a área que ele possui fica ao lado do sítio e não contém nenhuma das benfeitorias descritas na publicação.

"Não sou dono do sítio Santa Bárbara, sou dono do sítio ao lado. No meu terreno não há nenhuma edificação, e ele foi comprado com o meu dinheiro. Não conheço a Odebrecht. Sou só vizinho e isso não me parece crime", disse.

Nas escrituras, a área de 173 mil m² está dividida em duas partes, uma registrada em nome de Bittar e o outra no nome de Suassuna. Os dois terrenos vizinhos foram comprados em 2010, pouco antes das reformas terem início, do mesmo proprietário.

A Folha não conseguiu localizar o arquiteto Igenes Irigaray Neto.

Frederico Barbosa, engenheiro da Odebrecht que participou das obras, diz que o fez por meio de outra empresa e que seu trabalho foi "apoio informal"

TRÍPLEX EM GUARUJÁ

No Condomínio Solaris

2003


Bancoop: 
Cooperativa de prédios residenciais começou a construção do Condomínio Solaris

João Vaccari, ex-tesoureiro do PT (foto): foi diretor e presidente da Bancoop, que ao ser fundada em 1996, tinha Ricardo Berzoini como diretor técnico

Condomínio: Petistas como Freud Godoy, ex-assessor de Lula, e Heitor Gushiken, primo do ex-dirigente do PT Luiz Gushiken, compraram unidades

2005


Lula: 
Adquire a opção de compra do tríplex (foto). Declarou ter pago R$ 47,7 mil, junto com sua mulher, Marisa Letícia, por parcela de apartamento em construção e diz ter feito pagamentos até 2010, mas não informou o total despendido

2009

Bancoop: Cooperativa passou por crise. Três mil associados  de 8 mil não receberam seus apartamentos
OAS, acusada de envolvimento na Lava Jato: Condomínio foi repassado à OAS. Heitor Gushiken disse a “O Globo” que OAS pode ter assumido a obra por influência de Lula 

Tríplex: A OAS ofereceu aos cooperados, ou pagar mais R$ 120 mil para manter o apartamento ou receber o investido em 36 vezes

2010

João Vaccari: Foi denunciado por suspeita de desvio de dinheiro da cooperativa para abastecer campanhas do PT

2014

OAS: começou reforma de R$ 770 mil no imóvel reservado para Lula, que incluiu elevador privativo

2015

João Vaccari:  Foi preso na Lava Jato sob suspeita de desviar recursos da Petrobras ao PT
Investigações: O Ministério Público de SP investiga suspeita de lavagem de dinheiro em transferência de empreendimentos da Bancoop para a OAS

Lula: Em novembro, depois da publicação de reportagens sobre o imóvel, a família anunciou que desistiu de ficar com o tríplex

2016

Apartamentos alvo da Lava Jato: 164A (tríplex ligado a Lula, em nome da OAS), 133A (de Freud Godoy), 43A e 44A (ligados à família de Vaccari), 163B (em nome da Murray) e outras 8 unidades da OAS
Investigações: Lava Jato investiga se OAS repassou propina através do condomínio e se há laranjas ocultando proprietários dos apartamentos

Depoimentos ligam Lula à reforma

> Wellington da Silva, ex-funcionário da OAS: disse que abriu a porta do tríplex para que Lula entrasse acompanhado pelo coordenador de engenharia da OAS, Igor Pontes
> Armando Magri, sócio da construtora responsável pela reforma: disse que estava no tríplex quando foi surpreendido com a chegada de Marisa Letícia, acompanhada de seu filho Fábio Luis, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro e engenheiro da OAS
> José Afonso Pinheiro, zelador: disse que Lula e Marisa estiveram no tríplex duas vezes, quando a OAS limpou a unidade e a decorou com flores

As suspeitas sobre Vaccari 

As suspeitas sobre Vaccari 
Sua mulher declarou possuir imóvel que está em nome de uma funcionária da OAS. Sua cunhada, por sua vez, havia pago R$ 150 mil pelo imóvel em construção e o vendeu à OAS por R$ R$ 432,7 mil em 2013. A própria OAS revendeu o apartamento por R$ 337 mil

O que há contra a Murray

É uma offshore sediada no Panamá aberta pela Mossack Fonseca, empresa suspeita de fornecer serviços ilícitos para pessoas ocultarem dinheiro no exterior. A Mossack abriu offshores para ao menos quatro investigados na Lava Jato

29/01/2016


quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Um engenheiro e um porteiro no meio do caminho da história da carochinha de Lula




Lula e seus defensores resolveram abraçar o caminho da farsa para não ter de dar explicações claras: a cada vez que surge uma nova evidência de que a história está mal contada, eles gritam:

“Ah, querem pegar Lula!”.
Digamos que isso fosse verdade e que houvesse tal predisposição, cabe a pergunta: e se ele for pego por coisas que realmente fez? A eventual predisposição de seus adversários o absolve previamente de eventuais crimes?


Por Reinaldo Azevedo



Bem, a reportagem de ontem do Jornal Nacional, que trouxe o conteúdo do depoimento do engenheiro Armando Dagre ao Ministério Público de São Paulo, parece ter coroado o que, a esta altura, já está claro, não? Dagre foi o responsável pela reforma no apartamento 164 A, no Condomínio Solaris, o tríplex que seria da família do ex-presidente Lula.

O engenheiro conta que a reforma foi contratada pela OAS e teve um custo total de R$ 777 mil, entre instalação de um elevador privativo, construção de uma nova piscina e a troca das escadas. Dagre relatou também o dia em que a mulher de Lula foi conhecer o tríplex. Disse que estava reunido com um representante da OAS no local “quando dona Marisa Letícia adentrou o apartamento acompanhada por um rapaz e dois senhores”. O rapaz era um dos filhos do casal, Fábio Luís, o Lulinha, e os “dois senhores” eram um engenheiro da OAS e o dono da empreiteira, Léo Pinheiro.

A Promotoria também tomou o depoimento do zelador do condomínio, José Afonso Pinheiro, que trabalha no local desde 2013. Questionado se Lula esteve no prédio, Pinheiro disse que já viu o ex-presidente lá. Segundo ele, o chefão petista chegava normalmente em dois carros com seguranças que “prendiam” o elevador para a família, o que provocava reclamações de outros moradores.

O zelador contou, ainda, que a OAS sempre “limpava o prédio e colocava flores para receber a família do ex-presidente”. No depoimento, José Afonso Pinheiro disse também que um funcionário da empreiteira pediu a ele que não falasse que o apartamento era de Lula e da mulher, “mas da OAS”.

Eis aí: o maior legado pessoal de Lula à cultura política brasileira são as histórias oblíquas, os rolos, as meias-verdades, que mentiras inteiras são. Eis o “homem mais honesto do mundo”, segundo ele próprio, visto de perto, à luz da realidade.

Isso vem de longe, não é?, de um tempo em que a imprensa, ocupada demais em incensá-lo como o demiurgo de uma nova era, achava de maus bofes perguntar como, afinal de contas, ele vivia e quem pagava as contas. Desde sempre houve, por exemplo, um Roberto Teixeira no meio do caminho — o mesmo Teixeira que é o dono oficial, diga-se, do apartamento de Luís Cláudio, aquele filho de Lula enrolado na operação Zelotes. E de quem o advogado comprou o imóvel? De uma offshore que fica num paraíso fiscal.

O que há de ilegal em Luís Cláudio seguir os passos do pai e morar de graça no apartamento de um empresário milionário? Nada! O que há de ilegal no fato de esse empresário ter comprado o imóvel de uma offshore? Nada! O que há de ilegal em ser essa offshore situada num paraíso fiscal? Nada também. Essas coisas acontecem todo dia, não é mesmo? Essa é a rotina das pessoas comuns.

Esse imóvel de Luís Cláudio é avaliado entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões. Seu irmão mais velho, Lulinha — aquele que era monitor de Jardim Zoológico quando o pai chegou ao poder e se tornou um próspero empresário pouco depois, com a ajuda de uma empresa de telefonia de que o BNDES era sócio —, também mora, até onde se sabe, de graça no imóvel de um outro amigo, este um pouco mais caro: estima-se o valor de mercado em R$ 6 milhões. O proprietário oficial é seu sócio, Jonas Suassuna.

Aí há um sítio em Atibaia, também reformado pela OAS, segundo as vontades e os gostos de Lula. Toda a cidade conhece a propriedade como “o sítio de Lula” — até pelo aparato de segurança que toma o local quando o Primeiro Companheiro chega, né? Suassuna é, oficialmente, o dono desse imóvel também.

A coisa toda já começa a assumir ares de comédia vulgar, de bufonaria.

Há algo de errado quando as verdades do “homem mais honesto do mundo” precisam de um mapa desenhado por advogados para que possam ser compreendidas.

Lula e seus defensores resolveram abraçar o caminho da farsa para não ter de dar explicações claras: a cada vez que surge uma nova evidência de que a história está mal contada, eles gritam: “Ah, querem pegar Lula!”. Digamos que isso fosse verdade e que houvesse tal predisposição, cabe a pergunta: e se ele for pego por coisas que realmente fez? A eventual predisposição de seus adversários o absolve previamente de eventuais crimes?

Ninguém mais cai nessa conversa.

28/01/2016   

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Polícia Federal cumpre seis mandados de prisão na 22ª fase da Lava-Jato


Operação investiga offshore dona de triplex vizinho ao reservado a Lula pela OAS


Por Cleide Carvalho*, enviada especial
e Renato Onofre
O Globo

Agentes da Polícia Federal durante a 7ª fase da Operação Lava-Jato - Divulgação - 14/11/2014

CURITIBA e SÃO PAULO - A Polícia Federal realiza nesta quarta-feira a 22ª etapa da Operação Lava-Jato, chamada de Triplo X. Estão sendo cumpridos 23 mandados judiciais: seis de prisão temporária (com cinco dias de validade), 15 de busca e apreensão e dois de condução coercitiva. Uma publicitária foi presa, além de pessoas que seriam usadas como laranjas e pequenos operadores no esquema. Os mandados aconteceram na manhã desta quarta-feira nas cidades de São Paulo, Santo André, São Bernardo do Campo e em Joaçaba (Santa Catarina). O alvo da investigação são obras da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo), cooperativa dos bancários que foi presidida pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. A cooperativa ficou insolvente e as obras foram concluídas pela construtora OAS. Um dos prédios, o edifício Solaris, no Guarujá, abriga um apartamento que segue em nome da OAS, mas teria sido reservado ao ex-presidente Lula, tendo inclusive sido reformado a pedido de Marisa Letícia, conforme mostraram reportagens do GLOBO.

O foco desta 22ª fase, no entanto, é uma empresa offshore chamada Murray, sediada no Panamá, que é dona de um triplex no mesmo condomínio do Guarujá, que tem duas torres e está localizado na praia de Astúrias, no Guarujá. Fontes da Lava-Jato revelaram ao GLOBO que o apartamento que seria reservado a Lula não é alvo desta operação. Mas, em coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima admitiu que todos os apartamentos do Solaris estão sendo investigados, incluindo o triplex ligado a Lula.

Esta fase apura a existência de estrutura criminosa, segundo a PF, destinada a oferecer a investigados da operação a abertura de empresas off-shores e contas no exterior para ocultar dinheiro desviado em corrupção, “notadamente recursos oriundos de delitos praticados no âmbito da Petrobras”. A nova fase investiga se a empreiteira OAS lavou dinheiro por meio de negócios imobiliários para favorecer o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que está preso desde abril de 2015.

Na operação desta quarta, um dos objetivos é identificar quem é o beneficiário da holding. O endereço da Murray, nos Estados Unidos, já foi usado por outras offshores investigadas pela Polícia Federal na Operação Ararath, que apura lavagem de dinheiro. A publicitária presa se chama Nelci Warken, que já prestou serviços na área de marketing para a Bancoop. A suspeita é a de que ela tenha ligação com a offshore. Além dela, foram presos: Ricardo Onório Neto e Renata Pereira Brito. Eliana Pinheiro de Freitas e Rodrigo Andres Uesta Hernandez foram presos coercitivamente e estão prestando depoimento em São Paulo. Luiz Fernando Hernandez Ribeiro não foi localizado. Dois que têm mandados de prisão estão no exterior: Maria Mercedez Quijano e Ademir Auada devem ser detidos quando voltarem ao Brasil. A Força-Tarefa ainda não detalhou a participação dessas pessoas no esquema.

A intenção da PF é saber quem é o real dono do tríplex em nome da oofshore. Ela foi aberta por um escritório chamado Mossak, com sede no Panamá. Esse escritório tem uma representação na Avenida Paulista, que foi alvo da operação de hoje.

Serão apurados crimes de corrupção, fraude, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Participam desta fase 80 policiais. Os presos serão levados para a Superintendência da PF em Curitiba, Paraná.

27/01/2016


Operação Lava-Jato investiga triplex ligado ao ex-presidente Lula


Procurador diz que todos os apartamentos da OAS no Guarujá podem ter sido usados para lavar dinheiro desviado da Petrobras


Por Cleide Carvalho / Renato Onofre / Mariana Sanches
O Globo
Vista do prédio onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva adquiriu cobertura triplex no Guarujá
Michel Filho / Agência O Globo

CURITIBA e SÃO PAULO — O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou que a Lava-Jato está investigando o triplex da construtora OAS que estaria reservado à família do ex-presidente Lula em prédio no Guarujá, litoral de São Paulo. Os investigadores suspeitam que os imóveis do condomínio Solaris foram usados para lavar dinheiro desviado de contratos da Petrobras de pessoas ligadas ao PT, entre elas familiares do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.

— Nós investigamos fatos. Se houver um apartamento lá que esteja em seu nome (do ex-presidente Lula) ou que ele tenha negociado, vai ser investigado como todos os outros — afirmou Lima.

O imóvel é alvo de outra investigação no Ministério Público Estadual de São Paulo que apura a legalidade da transferência de empreendimentos da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) à OAS. A Lava-Jato suspeita que a construtora usou apartamentos do prédio, localizado na praia de Astúrias para lavar dinheiro. A força tarefa fez buscas e apreensões na sede da OAS e da Bancoop atrás de documentos relativos ao prédio.

— Houve interesse especial para concluir estes apartamentos — afirmou Lima.

PRÉDIO EM ÁREA NOBRE DO LITORAL PAULISTA

O GLOBO mostrou que o ex-presidente Lula adquiriu em 2005 com sua mulher, Marisa Letícia, uma cota de participação da Bancoop. O Solaris é um conjunto de 122 apartamentos, os menores com 82,5 metros quadrados e os maiores são as coberturas triplex com 216 metros quadrados.

Todos foram comercializados entre 2006 e 2010 e a média de preço das unidades era de R$750 mil, mas as coberturas valem pelo menos o dobro disso. O prédio de acabamento simples, com fachada em azulejos quadrados em branco e marrom fica na rua à beira mar da praia de Astúrias, no Guarujá

A OAS foi contratada em 2010 para terminar as obras do prédio iniciadas anos antes pela Bancoop, que a aquela altura já havia deixado de entregar cerca de 3100 apartamentos.

Na manhã desta quarta-feira, a Polícia Federal deflagrou a 22ª etapa da Operação Lava-Jato, chamada de Triplo X. Estão sendo cumpridos 23 mandados judiciais: seis de prisão temporária (com cinco dias de validade), 15 de busca e apreensão e dois de condução coercitiva. Até o momento, três pessoas foram presas e duas prestam depoimento na PF de Sâo Paul. Os mandados aconteceram na manhã desta quarta-feira nas cidades de São Paulo, Santo André, São Bernardo do Campo e em Joaçaba (Santa Catarina).


27/01/2016

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Justiça abre ação contra Joesley, do JBS, e Heraldo, do Rural, por empréstimo ‘troca de chumbo’


Ministério Público Federal, em São Paulo, acusa mais sete por crime contra o sistema financeiro em triangulação de R$ 80 milhões em 2011; Katia Rabello, condenada no Mensalão, também é ré

Por Julia Affonso e Fausto Macedo
Estadão

Joesley Batista, da JBS Friboi.
Foto: Paulo Giandalia/Estadão

A Justiça Federal, em São Paulo, abriu ação contra nove investigados ligado ao Grupo JBS e ao Banco Rural, instituição-chave no caso do Mensalão, por crime contra o Sistema Financeiro Nacional. A denúncia é subscrita pelo procurador da República, Sílvio Luís Martins de Oliveira, e foi aceita no último dia 19. Segundo o Ministério Público Federal, em 2011, os investigados fizeram operações ilegais de concessão de empréstimo conhecidas como “troca de chumbo” envolvendo R$ 80 milhões. Entre os réus estão os presidentes do JBS, Joesley Mendonça Batista, e do Banco Rural, João Heraldo dos Santos Lima.


As informações foram divulgadas pela Procuradoria nesta terça-feira, 26. Além de Joesley e João Heraldo, foram denunciados por participação direta nos atos ilegais o diretor financeiro da J&F, Antonio José Barbosa Guimarães, o presidente do Banco Original, Emerson Fernandes Loureiro, seu vice, José Eduardo Tobaldini Jardim, a presidente da Trapézio S.A., Kátia Rabello, seu vice, Plauto Gouveia, o vice-presidente do Banco Rural, Vinícius Samarane, e o diretor financeiro da instituição, Wanmir Almeida Costa.

A “troca de chumbo” consiste em operações triangulares entre duas instituições financeiras integrantes de diferentes grupos econômicos para a emissão de crédito a empresas que também fazem parte desses conglomerados. A prática adotada infringe as Leis 4.595/64 (artigo 34) e 7.492/86 (artigo 17), que vedam a concessão de empréstimos de uma entidade financeira a suas sociedades controladoras.

A denúncia do Ministério Público Federal afirma que o Grupo JBS é formado por 35 empresas, entre elas a J&F Participações e a Flora Produtos de Higiene e Limpeza. Segundo a Procuradoria, em 22 de dezembro de 2011, as duas companhias obtiveram R$ 80 milhões em empréstimos do Banco Rural, um dia depois de abrirem contas correntes na instituição. Descontados impostos e taxas, a quantia total de R$ 79,3 milhões foi imediatamente transferida para as contas da J&F e da Flora no Banco Original, que também faz parte do Grupo JBS.



Quatro dias depois, aponta o Ministério Público Federal, a empresa Trapézio S.A., controladora do Banco Rural, recebeu empréstimo no mesmo valor, R$ 80 milhões, ao firmar contrato com o Banco Original, responsável por emitir a nova operação de crédito. Após os abatimentos legais, o valor de R$ 79,2 milhões foi transferido para a conta da Trapézio no Banco Simples, outro componente do Conglomerado Financeiro Rural.

“Pela adoção dessa prática espúria, o Banco Original concedeu indiretamente empréstimo vedado às coligadas J&F Participações S.A. e Flora Produtos de Limpeza e Higiene S.A., integrantes do Grupo JBS. Por seu turno, o Banco Rural procedeu do mesmo modo em relação à empresa Trapézio S.A., sua holding controladora”, diz trecho da denúncia.

O número para acompanhamento processual é 0009224-33.2014.4.03.6181. A tramitação pode ser consultada em http://www.jfsp.jus.br/foruns-federais/

A JBS foi procurada por volta das 16h15, mas ainda não se manifestou sobre a denúncia da Procuradoria da República.



26/01/2016